O Globo: Só renúncia nesta quarta-feira livra Vargas de processo de cassação

Petista ainda acha que pode se defender, mas examina deixar mandato

BRASÍLIA — Contagem regressiva para o deputado petista licenciado André Vargas (PR). Ele tem até esta quarta-feira, antes das 14h, para renunciar ao mandato parlamentar se quiser evitar o processo, no Conselho de Ética da Câmara, por quebra de decoro parlamentar, no qual pode ser cassado. Mesmo com o sinal dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que o PT “não pode pagar o pato” pelo caso Vargas, e da expectativa de parte da bancada petista por sua renúncia, deputados mais próximos a Vargas defendem que ele mantenha o mandato e se defenda.

A possibilidade de surgimento de novas denúncias, entretanto, poderá reverter a disposição de enfrentar o processo no conselho e uma votação com voto aberto no plenário, para se manter no cargo.

Vargas passou o dia de terça-feira em Brasília, em conversas com deputados de seu grupo na bancada. Recebeu também o líder do PT, Vicentinho (SP), e o secretário-geral do partido, Geraldo Magela. Segundo Vicentinho, Vargas demonstra disposição em se manter no mandato e se defender, mas reflete também a possibilidade da renúncia:

— Vargas está convencido de sua inocência. Está em compasso de espera e devemos respeitar. É uma decisão pessoal. Falei com o presidente Lula e ele disse que o importante é ouvi-lo com generosidade e respeitar a decisão dele.

Durante o dia de terça-feira, Vargas usou trechos do despacho assinado pelo juiz federal Sergio Fernando Moro, que remeteu o caso ao Supremo Tribunal Federal, para tentar convencer os deputados do PT de que tem argumento para fazer sua defesa. No documento, o juiz afirma que é “prematura a afirmação de que tal relação (a do doleiro Alberto Youssef e Vargas) teria natureza criminosa”. O juiz afirma ainda que não está encaminhando os autos na íntegra “visto que há um conjunto de fatos, que inclui supostos crimes de evasão de divisas, corrupção de empregado público da Petrobras e crimes de lavagem de dinheiro (até de produto de tráfico de drogas) absolutamente estranhos à qualquer relação entre Alberto Youssef e André Vargas”. É com essa linha, segundo, petistas, que o deputado, licenciado por 60 dias do mandato e do cargo de vice-presidente, pretende se defender perante o Conselho de Ética.

Deputados do grupo de Vargas saíram em sua defesa e afirmaram que é preciso discutir tudo à luz de provas e não do “tom” das mensagens trocadas entre o petista e o doleiro. Youssef foi preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato. Vargas pediu emprestado o jatinho do doleiro, e a PF flagrou mensagens que os dois trocaram sobre ajuda para intermediar negócios com o Ministério da Saúde.

Para Carlos Zarattini (PT-SP), Vargas não deve renunciar, e sim usar a licença para se defender. Segundo Zarattini, é preciso discutir tudo à luz de provas e não do “tom” das mensagens trocadas entre Vargas e o doleiro.

— Vamos cassar o mandato de alguém sem provas? O uso de jatinho foi um erro, mas não é suficiente para cassar um mandato. Não tem nenhuma prova de que ele usou o mandato dele para favorecimento de empresa junto ao Ministério da Saúde. Ele não deve renunciar. Renunciar por quê? Ele falou bem ao dizer que há um massacre midiático em torno dele. André está disposto a esclarecer. É preciso haver algo além do tom das mensagens para condená-lo — disse Zarattini.

O ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP) garantiu que o colega não renunciará ao mandato. Para Vaccarezza, é só ler o despacho do juiz Sérgio Moro ao STF para ver que não há relação criminosa entre Vargas e o doleiro.

— Eu queria que as pessoas lessem o que o juiz enviou ao Supremo. (Ele) deixou claro que não existe relação criminosa. Que teve conversas fortuitas, mas não tem relação criminal entre o André e o doleiro. Como André mesmo disse, ele cometeu a imprudência de pedir o jatinho emprestado. Mas a Câmara vai investigar — disse Vaccarezza.

Amigo de Vargas, Vaccarezza garantiu que o colega não renunciará:

— Em absoluto, ele não vai renunciar. Isso nunca foi cogitado.

O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PSD-SP), marcou a reunião para as 14h de hoje e disse que, apesar da pressão de deputados do PT e de outros partidos que o procuraram, não adiará a instauração do processo.

— Deputados vieram pedir para esperar um pouco, mas nós temos prazo, 90 dias. Se segurar demais, chega no recesso e não conseguimos concluir. Fica feio para a Casa, a sociedade espera a resposta — disse Izar.

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