Apesar de o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo contra André Vargas (sem partido-PR), ter conseguido ler o voto em que recomenda a cassação de mandato do colega por quebra de decoro, a estratégia do ex-vice-presidente da Câmara de atrasar a análise do processo funcionou. Após manobras protelatórias ao longo do dia, a sessão do Conselho de Ética foi encerrada, por volta da 0h de hoje, sem que o colegiado conseguisse apreciar o voto de Delgado por falta de quórum. A expectativa, agora, é que o colegiado analise o processo contra Vargas nas sessões de esforço concentrado de setembro.
Na tentativa de manter-se no mandato até o fim da legislatura, Vargas abusou de pedidos judiciais. O mais recente, protocolado ontem, minutos antes da reunião do Conselho de Ética, pedia votação nominal sobre o requerimento de suspeição do relator. Vargas tentou afastar Júlio Delgado do processo sob a acusação de ele ter antecipado o voto. A decisão sobre afastar ou não o relator caberia ao presidente do Conselho, Ricardo Izar (PSD-SP).
Para evitar uma possível anulação do processo na Justiça, Izar decidiu acatar o pedido de Vargas. A medida, porém, atrasou a leitura do voto. Izar abriu a discussão e permitiu que os parlamentares inscritos falassem. Em meio ao debate, o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) avisou que pediria vista, o que não ocorreu pela ausência de quórum.
Regimentalmente, a reunião no Conselho de Ética não pode ocorrer enquanto congressistas apreciam matérias no plenário da Câmara dos Deputados. É exigido um quórum de 12 parlamentares para a apreciação do voto no colegiado, mas apenas seis deputados estiveram presentes à continuidade da sessão, que se estendeu para além da meia noite de ontem.
Irritação
Se Mauro Lopes ainda estiver disposto a pedir vista, os congressistas terão de aguardar duas sessões para levar o parecer ao plenário, o que atrasa o processo. Após quase três horas de discussão no Conselho de Ética, ontem, André Vargas se irritou e abandonou a reunião quando Júlio Delgado o convidou a ser ouvido pelos colegas. No corredor, Vargas repetiu o discurso de que tivera o direito de falar cerceado, mesmo após ser convidado em público a ser ouvido.
Vargas argumentou que “todos os depoimentos prestados corroboraram que não houve tráfico de influência, improbidade administrativa, peculato nem mesmo o pagamento do avião ao doleiro Alberto Youssef”, disse, referindo-se à aeronave utilizada para viajar com a família nas férias de fim de ano. “As provas feitas até agora foram feitas pela relatoria. Esses 30 dias de instrução estão viciados pela falta de acesso aos documentos”, criticou Vargas. Há duas semanas, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski concedeu a Vargas o acesso ao processo. Lewandowski negou, porém, as duas tentativas de paralisar as investigações na Casa.
Assessor de Argolo nega depósito
Em depoimento ao Conselho de Ética ontem, o chefe de gabinete do deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA), Vanilton Bezerra, voltou a negar ter recebido depósito de R$ 120 mil em sua conta bancária proveniente do esquema comandado pelo doleiro Alberto Youssef. “Nunca foi feito depósito”, respondeu ao relator Marcos Rogério (PDT-RO).