Correio Braziliense | Política: Os sinais deixados pela votação

Quatro titulares deram lugar a suplentes. Ministro acredita que governo poderia ter tido dois votos a mais

» Julia Chaib

» Marcella Fernandes

» Maíra Nunes

» Mariana Pedroza

Especial para o Correio

Os 38 votos favoráveis ao parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO) confirmaram o resultado esperado na comissão do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Quatro parlamentaresfaltaram e deram lugar a suplentes. As ausências mudaram um pouco a previsão da oposição, que esperava conseguir 40 votos. Um dos faltosos, o deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), enviou horas antes da votação uma sinalização negativa para o Palácio do Planalto, ao decidir renunciar à liderança do partido para ficar ao lado do impeachment, contrariando a orientação da legenda.

Antes da votação, todos os líderes das 25 bancadas falaram por 10 minutos cada. Liberaram a bancada o PMDB, PP, PHS e Pr. Apesar de eventuais divergências nas bancadas, PSDB, PSB, DEM, PRB, PTB, PSC, PV, PSL, PMB e Solidariedade apoiaram o relatório de Jovair. Foram contra PT, PR, PSD, PDT, PCdoB, PSol, PTdoB, PEN, Rede e PTN, que, no entanto, liberou a bancada para o voto no plenário.

O governo recebe um sinal positivo dos partidos menores com quem trabalha na repactuação. O PP, porém, deixou a bancada livre, embora o líder, Aguinaldo Ribeiro (PB), tenha votado a favor de Dilma. O partido pode ser um dos beneficiados e ganhar o Ministério da Saúde, mas, ao não fechar questão, deixa o governo em terreno baldio.

Na bancada do PR, Lessa, que abdicou do cargo de líder do partido, faltou à votação. O deputado anunciou que deixaria a liderança por ser favorável ao impeachment da presidente, diferentemente da Executiva Nacional do partido. A legenda comanda o Ministério dos Transportes e também está em meio a tratativas com o governo. Após a votação do afastamento, pode passar a comandar outras duas pastas, entre elas a Secretaria de Portos, Aviação Civil, além de órgão de infraestrutura. No lugar de Lessa, votou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), contra o relatório.

“Eu não achei justo com os deputados que estavam lá (na comissão), que representam a posição do PR, orientar de uma forma e votar de outra, então, eu liberei os deputados para votar conforme o partido na comissão, mas tomei a minha decisão, que será acompanhada por grande parte da minha bancada, que é uma posição a favor do impeachment”, afirmou Lessa. O deputado previu um placar de 25 a 30 votos pelo impedimento no plenário, dos 40 que compõem a bancada. O PR era representado por quatro deputados, contando Lessa. Os outros três votaram com a orientação partidária. “Havia um compromisso dos integrantes da comissão de expressar a vontade da executiva, como eu não podia fazer isso, resolvi não votar. Agora, estou livre pra trabalhar e votar em plenário”, disse ao Correio, após a votação.

Ausência

O deputado Bebeto (PSB-BA) foi outro faltoso. Ele deu lugar a Bruno Araújo (PSDB-PE), também favorável ao impeachment. Pré-candidato à prefeitura de Ilhéus (BA), Bebeto tem sido alvo de cobranças da população e do partido, por ter uma posição contrária à legenda. O mesmo estava ocorrendo com o deputado Washington Reis (PMDB- RJ). Embora aliado do líder Leonardo Picciani (RJ), contrário ao impeachment, Reis chegou a dizer a correligionários que votaria com o relator.

O peemedebista é pré-candidato a prefeito de Duque de Caxias e sofreu pressão para se colocar a favor do impeachment. O parlamentar cogitou encomendar uma pesquisa de opinião aos possíveis eleitores sobre o impeachment. A justificativa oficial para a ausência, porém, foi a de que o deputado estava doente, com H1N1, e precisava repousar. No lugar dele, votou Laudívio Carvalho (SD-MG), com voto favorável ao impedimento.

Integrante de um dos partidos que negociam cargos com o governo, o deputado Julio Cesar (PSD-PI) revelou ao Correio, na semana passada, a intenção de se ausentar da votação. “Eu nem queria ser titular”, disse. Julio estava como indeciso, e sua falta garantiu um voto favorável ao governo, já que a suplente, Benedita da Silva (PT-RJ), o substituiu garantindo uma posição contra o relatório.

O ministro-chefe do Gabinete Pessoal da presidente, Jaques Wagner, avaliou os votos perdidos na comissão. “Um dos votos que perdemos foi do Washington Luís, do PMDB do Rio, que por motivo de saúde foi substituído por um representante do Solidariedade. Aí, já iríamos para 28. E também Bebeto, que declarou que vota contra o impeachment”, explicou. “Votos inequívocos nos levariam a 29 votos. Alguém pode dizer que é narrativa, mas é a narrativa correta. Muita gente dizia que iríamos perder por um número significativo”, afirmou.

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