Folha de S. Paulo | Poder: Sempre governista, vice teve altos e baixos na Câmara

ISTO É TEMER PRESIDENTE DA CÂMARA

Peemedebista comandou a Casa em três ocasiões, entre 1997 e 2010 Dono de administrações relativamente estáveis, deputado foi um dos envolvidos na ‘farra das passagens aéreas’

RANIER BRAGON DE BRASÍLIA

Deputado pela primeira vez em 1987, Michel Temer traz no currículo legislativo algumas marcas dignas de registro. É o que mais comandou a Câmara desde a redemocratização, com três mandatos (19971998,1999-2000 e2009-2010), o último conseguido mesmo após ter sido o deputado eleito do PMDB menos votado em seu Estado – São Paulo.

Em suas gestões, sempre foi aliado do Palácio do Planalto, tanto com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) quanto com Lula (PT).

E apesar da fértil produção de escândalos nas últimas décadas, seus períodos de comando não coincidiram com quase nenhum deles, possibilitando administrações relativamente estáveis.

Seu primeiro mandato na presidência da Câmara, em 1997, é marcado por uma polêmica, na esteira da aprovação da emenda da reeleição de FHC.

Em maio daquele ano, a Folha revelou ter havido compra de votos para a aprovação. Em reação, FHC empossou ministros do PMDB – Eliseu Padilha indicado por Temer- , o que enterrou a criação de uma CPI para investigar o caso.

Outros escândalos menores brotaram, como em2009, ano do caso conhecido como “a farra das passagens aéreas”. Descobriu-se que deputados usavam dinheiro público para distribuir bilhetes a familiares, amigos e eleitores.

Isso incluiu Temer, que levou a mulher e familiares para Porto Seguro (BA) no período de férias. Nenhum parlamentar foi punido. Temer argumentou à época que regras não vedavam a conduta. Editou-se ato limitando uso de passagens.

Na parte legislativa, servidores e deputados destacam três medidas de Temer. Uma permitiu a promulgação de uma parte específica de emendas à Constituição, evitando uma ida e volta sem fim entre Câmara e Senado.

A outra permitiu ao plenário uma liberdade maior para votar projetos que não medidas provisórias do governo, de caráter prioritário. “Isso destravou a nossa pauta”, destaca Miro Teixeira (Rede-RJ). A terceira foi aprovação da Lei da Ficha Limpa, em 2010.

Os fracassos apontados – não só por culpa de Temer, naturalmente- tratam de formas como a tributária, entre outras, e a regulamentação do lobby. Na parte corporativa, o peemedebista dobrou a verba de gabinete assim que assumiu. Tempos depois, extinguiu o instituto aposentadoria dos parlamentares, cortando privilégios.

Temer é lembrado também por defender cargos para aliados. No primeiro volume de seu “Diários da Presidência”, FHC relata pedido de indicação para o fundo de pensão dos portuários. “Ele quer também alguma achega pessoal. (…) Temer é dos mais discretos, mas eles não escapam. Todos têm, naturalmente, os seus interesses.”

Vice-presidente nas duas primeiras gestões de Temer, deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) não se lembrou de beça, nesta quarta(ll), de um projeto para citar como marca no período. “Foi tanta coisa que a gente fica perdido.”

E no trato pessoal que Temer recebe os maiores elogios. Três deputados usaram um mesmo termo: “lhano”.

“É afável no trato, porém, com muito senso de autoridade”, diz Heráclito. “Habilidoso”, reforça Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR).

Para o futuro ministro Geddel Vieira Lima (Governo), “ele leva a conciliação ao extremo.” Geddel, que liderou a bancada do PMDB sob FHC, brincava em reuniões, segundo relatos, que ele fazia o serviço sujo para Temer ficar com as “mãos limpas”. “É mentira, essa frase nunca foi minha”, rebate.

De rivais conhecidos, destacou-se o senador Antonio Carlos Magalhães (morto em 2007), que não se cansava de chamá-lo de mordomo de filme de terror.

“Ele foi um bom presidente, mas o dr. Antonio Carlos estava em um nível acima”, diz o deputado federal Paulo Magalhães (PSD-BA), sobrinho de ACM.

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