Eduardo Cunha (PMDB-RJ) concede entrevista coletiva em sua residência oficial, em Brasília (DF)(Ueslei Marcelino/Reuters)
O tradicional refúgio de deputados que lutavam pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff transformou-se, nesta quinta-feira, em um silencioso e melancólico espaço de consolação a uma figura que, assim como Dilma, começa a se ver longe do poder. Logo após ser surpreendido nas primeiras horas do dia com a notificação de que fora afastado do comando da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) começou a receber na residência oficial uma romaria de aliados – em quantidade, vale ressaltar, bem menor do que aqueles 367 votos que chancelaram a aprovação do impedimento de Dilma e dos 267 deputados que, há 15 meses, o conduziram à cadeira presidencial.
Após deixar “plantados” por algum tempo os oficiais que se encaminharam ao Lago Sul, luxuoso bairro de Brasília, para notificá-lo da decisão, Cunha assinou o termo e reuniu-se com advogados e deputados mais próximos. Entre eles, esteve Paulinho Pereira (SD-SP), presidente da Força Sindical que, tamanha é a amizade, estendeu um cartaz diante da moradia do peemedebista exaltando a sua atuação em prol de projetos trabalhistas. Visivelmente abatido, Cunha não escondeu a surpresa com a decisão monocrática do ministro Teori Zavascki de suspendê-lo tanto da presidência da Câmara quanto do mandato. A determinação se deu na madrugada desta quinta-feira, e forçou o Supremo Tribunal Federal (STF) a mudar sua pauta, embora não o tema em debate: estava prevista a discussão de uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) interposta pela Rede, também visando ao afastamento de Cunha; no seu lugar, o plenário avaliou e ratificou, por unanimidade, a sentença do ministro Teori.
“A pior notícia que se esperava nesta quinta-feira era algo em relação à linha sucessória, como um afastamento ocasional se Cunha tivesse de assumir a presidência da República. Tirá-lo do comando da Câmara, ninguém esperava. E, suspender o seu mandato, nem mais o otimista de seus adversários imaginaria”, disse um deputado que passou esta manhã na casa de Cunha.
De terno e gravata, o agora suspenso da Câmara recebeu seus apoiadores na sala principal de sua casa, onde, todas as terças-feiras, tradicionalmente reunia os deputados mais próximos. Em um entra e sai constante, os parlamentares iam chegando e se aproximando de Cunha com palavras de apoio e parceria. Individualmente, demonstravam indignação com a medida. Sobraram ataques à decisão de Teori Zavascki, classificada como “inusitada” e uma “intromissão” na esfera do Legislativo. “O Brasil está nas mãos do poder Judiciário. O Supremo chegou à conclusão de que Cunha não sairia pelo voto dos deputados e deu uma canetada”, afirmou um parlamentar.
As críticas ao STF eram intercaladas com aquelas direcionadas ao sucessor direto de Eduardo Cunha, o deputado do baixo clero Waldir Maranhão (PP-MA). Nas conversas, chegou-se a dizer que Maranhão à frente da Casa seria um “desespero”, devido à sua falta de representatividade e de capacidade para conduzir a pauta. “Ele não aguenta dez minutos de pressão”, afirma um aliado de Cunha.
A preocupação maior, no entanto, é ver todas as prerrogativas até hoje esgrimidas por Cunha nas mãos de um deputado que, apesar de até recentemente ser considerado um aliado, não cumpriu o compromisso de apoiar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Apontado como “nada confiável”, Maranhão tem, agora, o poder de dar seguimento a pedido similar apresentado contra o vice-presidente Michel Temer.
Uma série de medidas para afastar o novo presidente da Câmara do cargo foi discutida. Cunha, que pode ir para o tudo ou nada, tem uma cartada. Se renunciar, o peemedebista força a convocação de novas eleições e na prática sela o destino de Maranhão, que dificilmente seria eleito em voto direto. São aventados nomes para entrar em uma disputa pela presidência da Câmara, entre eles Rogério Rosso (PSD-DF) e Jovair Arantes (PTB-GO) – presidente e relator, respectivamente, da comissão especial do impeachment. Ambos indicados por Cunha.
Ao lado de seus advogados, Eduardo Cunha decidiu recorrer da decisão do Supremo, que, por 11 votos a 0, confirmou a liminar de Teori Zavascki. A cúpula da Câmara dos Deputados, toda indicada por Cunha, também prepara recursos. Mas uma reversão da sentença, após votação unânime, não é esperada. “É muito difícil que aconteça”, admite um aliado.
Ao contrário do que costuma fazer, Cunha não voltou ao Rio de Janeiro nesta quinta-feira. Ele permanece na residência oficial recebendo aliados – prática que está com os dias contados. O peemedebista, caso não consiga mudar o entendimento do STF, terá de deixar a moradia exclusiva do presidente da Câmara em até 30 dias.