Não é só você que vai sofrer sem WhatsApp, políticos também usam muito a ferramenta para se comunicar e já foi até pivô de algumas notícias, como o suposto vazamento do áudio do discurso do vice-presidente Michel Temer (PMDB) após um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff. Por isso, o UOL foi ao Congresso ouvir dos deputados e senadores o que eles acharam da medida e como vão se comunicar enquanto o bloqueio durar.
Apontado como um usuário assíduo do WhatsApp, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), não acreditou, inicialmente, quando viu a notícia sobre a suspensão do aplicativo justamente em um grupo de WhatsApp. “Eu pensei que era um daqueles ‘fakes’, sabe? É verdade, mesmo?”, indagou Rosso ainda incrédulo.
Ao se convencer da veracidade da notícia, Rosso passou a pensar nas estratégias para “sobreviver” à suspensão dos serviços do aplicativo. “Vou ter que me habituar a falar no telefone de novo e ver quais são as alternativas. Acho que vou ter que ir para o Telegram”, disse o parlamentar referindo-se ao aplicativo de troca de mensagens concorrente do Whatsapp.
Migrar para o telefone também é a opção do “deputado analógico”, como se intitulou Jovair Arantes (PTB-GO), relator da comissão especial do impeachment na Câmara dos Deputados. Ele disse que utiliza o aplicativo, mas que “não vai morrer”. “Eu sou analógico. Até uso o WhatsApp, mas eu não vou morrer nem passar estresse por causa disso, não”, afirmou.
Para Jovair, a saída vai ser, em suas palavras, “voltar a dar lucro” para as operadoras de telefonia. “Ou o jeito vai ser voltar falar mais no telefone. É o jeito, né?”, explicou.
Para o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), a suspensão dos serviços do WhatsApp foi recebida com uma mistura de tristeza e alívio.
“Por um lado, eu vou ficar triste porque eu adoro aquelas piadas que a gente recebe nos grupos. Mas por outro, vai ser bom porque algumas vezes, a gente não tem paz. Pelo menos por 72 horas, a gente não vai correr o risco de abrir uma mensagem em público e descobrir que era algo pornográfico. Isso é muito constrangedor”, afirmou o parlamentar, provavelmente em alusão ao deputado federal João Rodrigues (PSD-SC) que foi flagrado assistindo a um vídeo pornô no celular na sessão plenária, que teria chegado por um grupo de WhatsApp.
O jornalista Carlos Leite, assessor do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), diz que, sem o aplicativo, vai ter de recorrer às tradicionais ferramentas de comunicação, como o telefone e o e-mail.
O WhatsApp resolve mais de 50% de nossas demandas aqui na liderança do governo” Carlos Leite, assessor do líder do governo na Câmara
Leite afirma que tanto ele como o deputado usam muito o aplicativo. “A nossa comunicação com o líder se dá muito pelo WhatsApp. Envio matérias da imprensa para ele, além de informá-lo sobre os pedidos de entrevistas. E o líder também fala muito com os grupos de parlamentares, com movimentos sociais”, detalha.
“O bloqueio atrapalha na medida em que não temos mais a agilidade para chamar ações em grupos, por exemplo. É uma ferramenta indispensável para agilizarmos as trocas de informações”, avalia.
Informações serão encaminhadas
O jornalista Leandro Quirino afirma que o bloqueio do aplicativo não vai prejudicar a comunicação dele com o deputado José Carlos Araújo (PR/BA), de quem é assessor, que é feita geralmente por telefone. “Só uso mensagens de texto com o deputado quando ele está em reunião”, diz.
Quirino revela que o deputado faz parte de diversos grupos no WhatsApp, de “deputados da bancada da Bahia, do bloco partidário na Câmara, do PR no Estado”. “O que afeta é a instantaneidade da informação … mas não ficará prejudicada”, fala. Ele ressalta que, com ou sem WhatsApp, “as informações institucionais são encaminhadas por e-mail”.
Araújo é presidente do Conselho de Ética da Câmara, que analisa o processo que pode levar à perda do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quebra de decoroparlamentar.
Alternativa
Depois que o WhatsApp ficou bloqueado por algumas horas em dezembro, por decisão da Justiça, parlamentares passaram a usar como alternativa o Telegram, um aplicativo semelhante de comunicação instantânea.
A equipe do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é um exemplo disso. Eles adotaram o app como principal meio de comunicação instantânea desde o fim do ano passado. Um dos chamarizes do Telegram é ter conversas mais seguras, criptografadas, e que se autodestroem.
À época, outros políticos e seus assessores também fizeram o download do Telegram em seus celulares, mas só recorrem a ele durante emergências, quando o WhatsApp deixa de funcionar. Pelo visto o “Whats”, como é chamado carinhosamente, é o queridinho do Congresso.
Do UOL, em Brasília