Entre os muitos erros cometidos pela presidente afastada Dilma Rousseff, o desprezo pelo Congresso foi um dos mais devastadores. Ao dar as costas para o Parlamento , Dilma perdeu a capacidade de articulação política e anulou as chances de aprovação de projetos de interesse do governo. Político mais hábil e mais afeito ao diálogo, o novo presidente Michel Temer certamente não repetirá os mesmos equívocos. Para consolidar sua base de sustentação, Temer deverá com contar com o apoio formal de siglas como PSDB, DEM, PPS, PTB e PSC, que formarão o chamado “bloco da maioria” na companhia dos partidos do “centrão”, que migraram da base de Dilma para a de Temer (em especial PSD, PP, PR). PSB e Rede Sustabilidade, que defenderam o impeachment mas apoiam novas eleições, devem adotar um tom de independência. Os mais otimistas aliados de Temer prospectam uma base de até 400 de um total de 513 deputados. Outros, mais ponderados, estimam algo próximo a 350 – ligeiramente abaixo do que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva alcançou em seu primeiromandato. Em 2003, o petista conseguiu ampliar a base do governo na Câmara de pouco mais de 300 para quase 380 deputados.
A disputa pelo comando da base de Temer na Câmara já começou. Por ora, os principais nomes no páreo são André Moura (PSC-SE) e Rodrigo Maia (DEM-RJ). Filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM-RJ), Rodrigo é genro de Moreira Franco, ex-governador e amigo de Temer. Pesa contra o carioca a percepção de que ele teria menos tato para negociações. Já Moura é um dos principais homens da tropa de choque de Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara, e circula como poucos entre o baixo clero da Casa, considerado como estratégico para a aprovação de medidas mais duras neste início de governo.
Qualquer que seja o escolhido para liderar o grupo, o acordo passará pela escolha do sucessor de Eduardo Cunha. O parlamentar ainda exerce forte influência na Câmara e poderia atrapalhar os planos de Temer caso a vida de seus aliados seja muito dificultada pelo governo. Por isso, os favoritos para assumir a presidência da Câmara até fevereiro de 2017 são dois aliados de Cunha. O líder do PSD e presidente da Comissão do Impeachment na Casa, Rogério Rosso (DF), e o líder do PTB e responsável pelo relatório favorável ao processo de afastamento na Câmara, Jovair Arantes (GO). Junto a Moura, eles compõem o chamado “triunvirato” de Cunha. Outra opção seria a substituição de Waldir Maranhão (PP-MA) por algum deputado com mais credibilidade na vice-presidência. Os nomes até agora ventilados são o de Esperidião Amin (PPSC) e Júlio Lopes (PP-RJ).
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QUEM SOBE
EUNÍCIO DE OLIVEIRA (PMDB-CE) Nome mais cotado para assumir a presidência do Senado em 2017, Euníció terá papel fundamental na interlocução de Temer com sua base no Congresso
LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB-BA) Teve destaque nas articulações pró-impeachment e será um dos responsáveis por fazer a ponte entre Temer e a bancada do partido na Câmara
AÉCIO NEVES (PSDB-MG) Presidente nacional do PSDB, o senador é o interlocutor direto entre Temer e o PSDB. Oficialmente, é Aécio quem conduz as . negociações entre | os tucanos o novo governo
ALOYSIO NUNES (PSDB-SP) Integrante da ala paulista do PSDB, Nunes também . tem interlocução direta com Temer e é visto como um nome de relevância para a elaboração de medidas mais urgentes
QUEM DESCE
JOSÉ GUIMARÃES (PT-CE) Líder do governo na Câmara, colecionou derrotas políticas e viu a base governista coordenada por ele se esvair
KÁTIA ABREU (PMDB-TO) Ministra da Agricultura até o último minuto, a senadora teve a relação com a cúpula do PMDB comprometida em razão do apoio ao PT
VANESSA GRAZZIOTIN (PCdoB-AM) Uma das principais defensoras de Dilma, Vanessa viu o encolhimento da ala mais identificada a esquerda no Senado. Agora, trem o desafio de retornar a interlocução com a oposição moderada
JANDIRA FEGHALIH (PCdoB-RJ) Aliada do PT na Câmara, Jandira promete fortalecer a oposição a Temer, mas também observou a redução do campo de esquerda na Casa
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A renúncia de Maranhão ao posto é aguardada para esta semana.
Embora o PSDB seja um dos principais interessados na presidência da Câmara, o partido deverá se manter à margem da disputa atual, pois entende que, enquanto Cunha tiver força, a condição para ocupar o posto será salvar o deputado afastado da cassação. Tudo indica, porém, que os tucanos partirão para o combate nas eleições da nova legislatura, no início de 2017. Atualmente, os principais cotados são os baianos Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA) e Antonio Imbassahy (PSDB-BA), atual líder da bancada na Casa. Os dois, somados ao ex-líder da minoria Bruno Araújo (PSDB-PE) e aos senadores Aloysio Nunes (PSDB-SP) e Aécio Neves, ganharam destaque nas articulações mais recentes pelo Congresso e são vistos por Temer como aliados estratégicos.
Entre os peemedebistas, Eunício de Oliveira (PMDB-CE) é o principal cotado para assumir a presidência do Senado ao fim do mandato de Renan. Na Câmara, ganham ainda mais peso articuladores como Lúcio Vieira Lima (PMDBBA) e Osmar Serraglio (PMDB-PR). Histórico defensor da ruptura da aliança com o PT e reconhecido pela experiência de três mandatos como deputado e um como senador, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) também tem se fortalecido e buscou Temer para declarar seu apoio, mas sem barganhar cargo. Sua meta é se cacifar para uma eventual disputar pela presidência da Câmara.
Petistas e aliados ainda buscam uma estratégia de sobrevivência. A exemplo do que estuda fazer a presidente afastada Dilma Rousseff, alguns deputados se preparam para rodar o País com a missão de denunciar o que chamam de “golpe”. A meta é atingir a credibilidade de Temer e tentar reverter o julgamento aberto no Senado. Além disso, o grupo já anunciou que fará o máximo para impedir a governabilidade do novo presidente, com dura oposição a qualquer proposta que venha do governo. Pouco importa se as medidas tiverem sido defendidas por Dilma e pelo próprio PT, como uma possível reforma da previdência. Na linha de frente desta ala, estão parlamentares como o ex-líder do governo Dilma na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e o ex-líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE). Somam-se a eles nomes como os deputados Paulo Teixeira (PTSP), Afonso Florence (PT-BA), Patrus Ananias (PT-MG), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Silvio Costa (PTdoB-PE), fiel escudeiro do governo ao longo das articulações contra o impeachment.
De volta ao Senado, Kátia Abreu (PMDB-TO) e Armando Monteiro (PTB-PE) também terão dificuldade de se reerguer. Os dois retornam com a pecha de terem ficado até o fim com Dilma, sem o apoio de suas respectivas bancadas. Junto a senadores como Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Paulo Rocha (PT-PA), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Fátima Bezerra (PT-RN), a expectativa do PT é que o grupo reforce a resistência a Temer na Casa. Será uma tarefa bastante complicada.