Ideia é viabilizar aliado do deputado para a presidência da Câmara
Júnia Gama e Simone Iglesias
Interlocutores do Palácio do Planalto tentam um acordo para viabilizar a eleição do deputado Rogério Rosso (PSD-DF) à presidência da Câmara, como sucessor do presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Um dos pontos da conversa do presidente interino Michel Temer com Cunha, na noite de domingo, foi exatamente a sucessão na Casa. O presidente afastado quer ajuda do governo para eleger um aliado seu para o cargo de presidente como última tentativa de tentar manter o mandato.
Em troca, renunciaria ao posto de presidente, permitindo que seja solucionado o desgoverno na Câmara, provisoriamente comandada por Waldir Maranhão (PP-MA).
– A renúncia é ótima para o governo. Não dá para a Câmara ficar parada deste jeito, com um presidente interino que deixa uma semana toda sem votar nada. Há algum tempo teria sido mais fácil viabilizar este tipo de acordo. Mas deixa ele (Cunha) tentar, vamos ver no que dá – afirmou um auxiliar do Planalto.
AJUDA CONTRA PERSEGUIÇÃO
Na conversa com Temer, segundo relatos, Cunha insinuou querer ajuda para viabilizar esta saída. Demonstrou não ter condições de articular isto por conta própria e necessitar do apoio do governo. O pedido de Cunha foi de apoio a um deputado que não lhe perseguiría após a renúncia à presidência.
– Não dá para querer que ele renuncie sem o compromisso de que o sucessor não lhe seja hostil – defendeu o assessor do Planalto.
O único nome visto por enquanto no Planalto que poderia atender a Cunha, ao governo e ser aceito pela velha oposição – PSDB, DEM, PPS e PSB – sem levar a um racha da base de Temer seria o do deputado Rogério Rosso. Mas alguns dos líderes consultados por emissários do Planalto já! demonstraram resistência a esta solução, pois acreditam que isto poderá fortalecer o centrão – que apoiava Dilma e agora está com Temer – na eleição para o próximo biênio na Câmara, em 2017.
RESISTÊNCIA AO CENTRÃO
Há um cuidado para que Temer não se envolva diretamente na questão para evitar problemas com sua base. A ideia do Planalto era somente entrar na disputa em caso de polarização entre um partido aliado e a oposição. Mas, para evitar que um nome desfavorável a Cunha seja eleito, o Planalto tenta um acordo em tomo de Rosso.
– Tem que ter muito cuidado para o governo não aparecer nesta disputa. O risco de ter prejuízo é bem maior que um eventual benefício, porque pode despertar nos excluídos uma reação – comentou um assessor do Planalto, lembrando as retaliações sofridas pelo governo petista por ter tentado derrotar Eduardo Cunha.
Na visão do governo, Rosso preenche os requisitos para o momento: pertence a um partidomédio, tem um perfil conciliador, certo de grau de preparo técnico e ganhou estatura na presidência da comissão especial que analisou o impeachment de Dilma Rousseff. Mas, até o momento, não há apoio dos partidos da antiga oposição, e nem mesmo do PMDB. Os peemedebistas têm dialogado com PSDB e DEM, e até tentado estabelecer pontes com os arquirrivais PT, PCdoB e PDT, para uma aliança informal na sucessão na Câmara que se sobreponha ao centrão.