PMDB do Senado quer manter direito à indicação de novo ministro
Júnia Gama, Eduardo Bresciani, Evandro Éboli e Isabel Braga
Apesar do diagnóstico de que a saída de Romero Jucá do Ministério do Planejamento era essencial para evitar a sangria no governo, o Planalto manteve o discurso de que o afastamento é temporário e teve o cuidado de não fustigar o aliado, que insiste em retornar à pasta se o Ministério Público considerar normal seu diálogo com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Reservadamente, no entanto, a avaliação no governo é que o afastamento de Jucá é irreversível e que será preciso encontrar um substituto definitivo para a vaga quando o clima esfriar.
Entre os colegas senadores, o diagnóstico é o mesmo: Jucá não conseguirá retornar ao ministério depois do vazamento do diálogo em que fala em impor limites para a operação Lava-Jato, na qual é investigado. Por outro lado, os senadores do PMDB dão indicações de que desejam manter a influência sobre a pasta. Alguns afirmam que, na composição ministerial, o Planejamento foi a única indicação do partido no Senado e que, quando for o momento oportuno para se escolher um novo nome, esta ala deve ter poder para indicar. Osparlamentares não consideram que o filho do senador Jáder Barbalho, ministro Hélder Barbalho (Integração Nacional), represento a bancada.
– Sem o Planejamento, nós ficamos sem absolutamente nada no governo. Claro que o mais importante é ajudar na governabilidade. Mas a forma mais efetiva de ajudar é estando diretamente no governo – diz um dos senadores do PMDB.
SIMONE TEBET NEGA INTERESSE
Com o intuito de “segurar a vaga” senadores do partido começaram a citar o nome da senadora Simone Tebet (PMDBMS) como possível ministra do Planejamento. A própria, no entanto, descartou a hipótese:
– Nunca fui sondada para isto e acho que não seria bom deixar o Senado neste momento em que o governo precisa de apoio na Casa. Até acredito que o presidente Michel deveria escolher uma mulher para o ministério, mas uma técnica, e não política – afirmou ao GLOBO.
Em reunião com Michel Temer ontem, um grupo de líderes do Centrão discutiu a situação do governo com saída de Jucá e um deles, Rogério Rosso (PSD-DF), chegou a sugerir que o Planejamento fosse fundido à Fazenda em um Ministério da Economia. A ideia, no entanto, não foi bem recebida. Um dos presentes comentou que não seria conveniente fazê-lo, já que a saída de Jucá era ainda temporária. Segundo relatos, Temer tampouco concordou com a sugestão e afirmou que esta situação ainda irá demorar para ser resolvida. A avaliação no governo é que saída de Jucá foi muito ruim e Temer não quer errar novamente na mesma pasta.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, fez questão de afirmar, logo pela manhã, que espera que Jucá retorne à pasta, e que o presidente interino busca o momento certo para decidir sobre a eventual volta.
– A equipe (econômica) perde, espero que seja temporariamente, um de seus grandes pleitos. Mas ganha no Senado, aquele que tem se consagrado, e não trago nenhuma novidade, como relator-geral da República. Fazia o ministro Jucá com o ministro Meirelles uma dupla que, no linguajar próprio do Rio Grande do Sul, tocava de ouvido. Eles tinham perfeito entrosamento. Trabalhavam de mãos dadas, a quatro mãos – disse Padilha.
A avaliação no governo é que saída de Jucá foi muito ruim e Temer não quer errar novamente na mesma pasta.
De volta ao Congresso, Jucá foi à tribuna da Câmara, e em uma fala áspera reagiu às críticas dos adversários. O ex-ministro disse que Temer pediu que ele ficasse, mas que ele entendeu que seria melhor se afastar até que o procurador-geral da República se pronuncie sobre sua situação.
– Estarei à disposição dos fundamentalistas, petistas, arrivistas, qualquer, um que queira levantar o questionamento. A Folha (de S.Paulo) deu interpretação errônea às minhas palavras. O presidente Michel pediu para eu continuar, mas entendi que o melhor seria me afastar até para evitar esse tipo de manifestação atrasada e babaca – disse Jucá.
CONSELHO DE ÉTICA
O senador Telmário Motta (PDT-RR), inimigo local de Jucá, deu entrada ontem com representação que pede que o Conselho de Ética se debruce sobre a gravação que levou Jucá a deixar o Planejamento. O documento, assinado pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, compara a situação de Jucá a de Deiciaio Amaral, que foi cassado no dia 11 deste mês por 74 votos a 0 no plenário do Senado.
Em resposta nos corredores do Congresso, Jucá atacou os partidos e parlamentares que defendem que seja investigado.
– Quero dizer que não fiz nada de errado. O que disse ao Sérgio Machado disse a diversos órgãos. Quanto à representação no Conselho de Ética, se fomos ver os autores… Um deles é um bandido: o senador Telmário Motta. Outro é o Lupi, que não merece comentário. Partindo do PDT, qualquer representação é brincadeira – disse Jucá. (Colaboraram Eduardo Barretto e Simone Iglesias)
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“Até acredito que o presidente Michel deveria escolher uma mulher para o Ministério, mas uma técnica, e não política”
Simone Tebet
Senadora (PMDB-MS)