Beto Mansur vai a Temer pedir apoio para comandar a Câmara
Júnia Gama
As movimentações em torno da sucessão para a presidência da Câmara aumentaram ontem. Primeiro secretário da Câmara e candidato à presidência da Casa, o deputado Beto Mansur (PRB-SP), defendeu que o presidente afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), renuncie ao cargo. Para Mansur, “já passou da hora” de seu antigo aliado deixar a vaga, o que ajudaria, em sua avaliação, a “estancar o sangramento” na Casa.
– Eu acho que ele vai renunciar semana que vem. Não falei com ele, mas acho que ele não pode continuar deixando sangrar a Câmara da maneira como está. Semana que vem vai fazer dois meses que ele foi afastado, seria uma boa hora para ele renunciar. Passou do prazo dele renunciar – disse Beto Mansur.
Candidato à vaga, Mansur esteve semana passada no Palácio do Planalto para pedir o apoio do presidente interino, Michel Temer, para seu pleito. Ouviu de Temer que o governo não pretende interferir na disputa. Além de Mansur, ao menos outros dois deputados, Heráclito Fortes (PSB-PI) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), tentaram o apadrinhamento do governo. Mas ouviram respostas semelhantes: o melhor nome para o Planalto é aquele que conseguir se viabilizar sem rachar a base.
– Beto Mansur quer a cadeira vaga para sentar nela. Ele falou ao Temer que gostaria de disputar, mas o presidente respondeu que ele deve tentar ser candidato único. Se conseguir, o governo ficará feliz. Mas não vai entrar na disputa disse um interlocutor de Temer.
Beto Mansur afirma que sua posição sobre Cunha não está relacionada ao fato de ser candidato à sucessão na Casa. A pedido de Cunha, o Planalto vem trabalhando para viabilizar o nome de Rogério Rosso (PSD-DF) para o cargo.
– Não dá mais. Não estou discutindo se sou ou não candidato. Mas o plenário precisa de alguém para assumir a Casa em até cinco sessões, para voltar a funcionar. Não tenho acordo com ninguém. Os deputados têm que achar alguém
que nos represente, não quem o Eduardo ou o governo querem – disse ele.
Ontem, Cunha reafirmou que “não existe renúncia” Mas seus aliados mais próximos e os interlocutores que trabalham em sua defesa junto ao Supremo Tribunal Federal afirmam que ele, de fato, deverá deixar a presidência em um gesto para tentar evitar ser cassado.
REUNIÃO COM O PSDB PROVOCA REAÇÕES
Como O GLOBO informou ontem, pressionado por Cunha, Michel Temer tenta um acordo com a antiga oposição para viabilizar uma sucessão na Câmara com um nome de interesse do peemedebista. Semana passada, Temer procurou o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), em busca de apoio para um deputado do Centrão que assuma o mandatotampão de presidente da Câmara até o final deste ano. Em troca, Aécio quer um compromisso de apoio, por parte do governo e do PMDB, a um integrante de PSDB, DEM, PPS ou PSB para presidir a Câmara no período entre 2017 e 2019.
A articulação provocou reações na Câmara. Publicamente, integrantes de partidos da antiga oposição criticaram qualquer tentativa de ajudar Cunha. Mas, reservadamente, admitem que pode ser costurada uma saída para garantir que este campo político assuma o comando da Casa a partir do ano que vem. No entanto, o líder do PMDB, deputado Baleia Rossi (SP), afirmou que seu partido deve ter candidato à presidência da Casa no próximo ano, e que não se deve falar neste tipo de acordo agora.
– Acho que é precipitado falar nisso. O PMDB tem direito de pleitear e tem todos os predicados para isso. Fazer acordo prévio não é o caminho. Qualquer decisão que formos tomar será pelo conjunto da bancada. O governo não vai interferir, pois é questão do Parlamento – disse Rossi.
Potencial candidato à vaga, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) também refutou qualquer acordo para eleger um presidente apreciado por Cunha:
– Nesse momento que o governo precisa de credibilidade para fazer ajuste, é complicado querer combinar o jogo com Eduardo Cunha sem antes falar com os russos.