O Globo Online: Aliados de Cunha resistem a nova eleição para a Câmara

Oposição defende novo pleito, independente de eventual renúncia de Cunha

BRASÍLIA – Ainda sob o impacto da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que selou a saída de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Presidência da Câmara, líderes do principais partidos da Câmara que apoiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff e negociam cargos no eventual governo Michel Temer discutiram na noite desta quinta-feira a construção de um caminho para o funcionamento da Casa. Não houve consenso e nova rodada de conversas foi marcada para a próxima semana. A oposição defendeu novas eleições, independente da renúncia de Cunha, mas houve resistência por parte dos aliados mais próximos de Cunha.

– Nós votamos no Waldir Maranhão, ele tem condições de presidir, é prerrogativa dele assumir. Temos que seguir o regimento. É preciso ter calma. Estamos aqui discutindo a preservação da instituição. Semana que vem devemos ter um novo presidente da República – afirmou o primeiro-secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB-SP).

Para o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), é preciso dar tempo ao tempo e deixar a poeira baixar. Segundo ele, há várias teses, mas é preciso avaliá-las com calma.

– É preciso ter humanidade (com Cunha). Hoje não é um bom dia para a Câmara, assim como não foi no dia da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma. Vamos ter que sentar, ter responsabilidade e discutir com serenidade – disse o líder do PP.

O líder do PSD, Rogério Rosso (DF), também achou precipitada a tese da oposição que que há vacância do cargo porque a suspensão de Cunha está atrelada ao julgamento dele no Supremo e ultrapassará o mandato, que termina em fevereiro de 2017.

– Existe a dificuldade de interpretação da decisão do Supremo neste ponto, se há ou não a vacância. O primeiro vice deve assumir interinamente e temos que tentar tocar adiante as votações da Casa – disse Rosso.

Nos bastidores, os líderes mais próximos de Cunha admitem que Waldir Maranhão não tem condições de presidir a Câmara neste momento de crise e é preciso encontrar uma solução que garanta a eleição de um novo presidente. Apesar de Cunha ter garantido que não renunciará à Presidência, muitos afirmam que ele não terá outra alternativa se quiser manter seu mandatocomo deputado. Eles querem convencer Cunha a renunciar e ajudar na eleição de um dos seus aliados para o mandato tampão até 2017. Entre os cotados para o eventual mandato tampão estão os líderes do PTB, Jovair Arantes (GO), do PSD, Rogério Rosso e do PSC, André Moura (SE).

Na reunião, os aliados de Cunha também não defenderam como solução para a presidência da Casa acelerar o processo dele no Conselho de Ética e, com sua cassação, garantir novas eleições. Para a oposição o Conselho de Ética também não é o caminho, por ser demorado e porque poderá abrir margem a questionamentos.

– Será que o Conselho pode continuar julgando com o mandato suspenso? Nós entendemos que a Presidência já está vaga. Vamos deixar a poeira assentar para que todos possam refletir – disse Mendonça Filho.

Não participaram da reunião os líderes dos partidos aliados do governo Dilma – PT, PDT e PC do B – e PSOL e Rede , que também foram contra o impeachment. São partidos que farão oposição em um eventual governo Temer.

Isabel Braga e Maria Lima

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