Em evento com líderes de partidos, Cunha exibe documentos para tentar comprovar versão de que vendia carne para África
Daniel Carvalho
Em busca de apoio na Câmara, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apresentou ontem a líderes partidários governistas e da oposição dois passaportes em nome dele, da década de 1980, com 49 carimbos que comprovariam viagens a países africanos.
Em sua peça de defesa, o peemedebista afirmou ter formado uma fortuna com a venda de carne enlatada para nações da África. Essa seria a origem dos recursos atribuídos a ele em contas no exterior. De acordo com aliados, um dos passaportes tem 37 carimbos e o outro, 12, uma média de mais de uma viagem por mês à África no período de três anos. A maioria das viagens, segundo Cunha, foi para as atuais República Democrática do Congo (antigo Zaire) e República do Congo (antiga República Popular do Congo).
“Ele fez questão de apresentar dois passaportes que atestam a quantidade de viagens que fez nas décadas de 1980 e 1990 para países da África na sua atividade comercial à época, sem entrar em detalhes sobre essas atividades. Apenas mostrou uma série de entradas e saídas registradas. Não contei, mas foram vários carimbos. Cada página tem dois, três carimbos”, afirmou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), um dos presentes no almoço.
O carro-chefe das exportações intermediadas por Cunha era carne enlatada, mas o deputado comentou com os líderes que também vendeu itens como açúcar, arroz e feijão. Naquela época, ele ocupou o cargo de diretor da Câmara de Negócios Brasil-Zaire, segundo afirmou a seus pares.
Na sexta-feira passada, Cunha recusou-se a informar ao Estado quais mercadorias comercializava, além da carne enlatada. “Foram diversas (mercadorias comercializadas). O detalhe pode me gerar um outro tipo de contestarão que não tem sentido. Isso e secundário no processo”, ressaltou no final da semana passada em entrevista para apresentar sua defesa.
De acordo com participantes do almoço, Cunha apresentou espontaneamente os passaportes. Disse que os encontrou no último sábado e, por isso, não os mostrou na série de encontros com a imprensa, um dia antes. A deputados próximos a ele, o presidente da Câmara
‘Tiro no pé’. No almoço de ontem, o deputado voltou a negar ter contas no exterior e afirmou não ter ingerência sobre os ativos que acumulou com suas atividades comerciais que deixou sob administração dos trastes, espécie de fundo de investimentos. Na avaliação de líderes da base governista e da oposição, Cunha deu um “tiro no pé” ao conceder entrevistas apresentando sua defesa.
Ao ser questionado sobre os passaportes. Cunha recusou-se a dar mais informações e não os apresentou à imprensa. “Conversei com alguns líderes. Isso faz parte de conversas privadas que eu tenho com eles e, eventualmente, eu falo alguma coisa. Vou deixar vocês curiosos”, disse o peemedebista aos jornalistas. “No momento em que os advogados entenderem, apresentarei a vocês. Não vou fazer isso de forma desorganizada e atabalhoada”, declarou.
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