Bloco informal que reúne cerca de 200 deputados reagiu à possibilidade de o governo nomear tucano para ministro em troca de apoio do PSDB à eventual candidatura à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Fiel da balança da governabilidade do governo Michel Temer, o chamado “Centrão” mediu forças nesta semana com o Palácio do Planalto de olho na perspectiva de poder aberta com a eleição que definirá em fevereiro o novo presidente da Câmara.
Dono de mais de 200 votos na Casa, o “Centrão”, bloco informal que reúne deputados governistas do chamado “baixo clero”, reagiu à indicação de um deputado do PSDB – Antonio Imbassahy, líder do partido na Câmara – para ministro da Secretaria de Governo.
Havia expectativa de que Imbassahy fosse anunciado como ministro na próxima semana, mas, diante das reações, Temer decidiu rever a indicação.
O convite poderia dar mais espaço no governo ao PSDB, que, em compensação, abriria mão de lançar candidato à presidência da Câmara e apoiaria a eventual candidatura à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Membros do “Centrão” reagiram porque articulam uma candidatura própria do bloco, formado por 12 partidos (PP, PR, PSD, PTB, PROS, PSC, SD, PRB, PEN, PTN, PHS e PSL). Uma prévia pode ser feita na próxima semana. Entre os cotados como candidatos, estão Rogério Rosso (PSD-DF), Jovair Arantes (PTB-GO), e Beto Mansur (PRB-SP).
‘Recados” ao Planalto
Para impedir que Imbassahy assumisse o posto, o “Centrão” enviou recados a Temer, indicando que o bloco poderia travar a tramitação da reforma da Previdência Social e de outras pautas de ajuste fiscal.
Na quinta-feira (9), quando a informação do convite de Temer ao tucano começou a circular pela Câmara, o deputado Rogério Rosso deu o recado ao Palácio.
Segundo ele, se a indicação de Imbassahy para o governo fosse vinculada a um eventual apoio do Planalto e do PSDB à candidatura de Rodrigo Maia, poderia haver uma ruptura na base governista.
“Caso isso ocorra, realmente a situação vai se deteriorar do ponto de vista da união da base. Isso pode prejudicar o ajuste fiscal”, disse o líder do PSD.
Outro pré-candidato à presidência da Câmara, o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), destacou que a indicação de Imbassahy poderia soar como interferência do Palácio do Planalto na eleição interna da Câmara.
“Isso pode, neste momento, desequilibrar uma discussão na Casa, que é a eleição à presidência”, enfatizou.
O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), reconheceu que o mal-estar gerado na base preocupa o governo.
“A preocupação do governo é natural, porque não quer turbulência dentro da base. Lógico, o governo quer manter toda a base unida para garantir voto em todas as votações. […] Qualquer passo que crie um problema interno na base preocupa o governo porque isso reflete em votações importantes”, afirmou.
Embora considere legítima a reação, Moura ponderou que a questão de escolha de um ministro cabe ao presidente da República e não pode ter pressões externas.
“Houve uma reação dura por parte de alguns líderes – eu continuo achando que é legítimo que eles tenham a sua reação, não estou criticando a reação deles -, mas acho que é uma questão que não pode ter interferência política. Tem que ser uma escolha do presidente”, declarou.
André Moura ressaltou que o nome do novo titular da Secretaria de Governo não foi definido oficialmente e que o mal-estar “surgiu de uma coisa que o governo não anunciou”.
O líder do governo descartou ainda o receio de líderes do “Centrão” de que a escolha do deputado tucano tenha relação com um acordo com o PSDB para, em troca de mais espaço no governo, obter apoio para a reeleição de Rodrigo Maia.
“O presidente Michel Temer já deixou muito claro, de forma enfática, que o processo de eleição na Câmara não terá nenhum tipo de interferência do Palácio do Planalto. Muito pelo contrário, o presidente vai se manter isento”, disse.
Com o cenário de turbulência, o Palácio do Planalto agora avalia convidar um tucano do Senado, o que poderia pacificar o atrito da base na Câmara. Os nomes cotados são dos senadores Antonio Anastasia (PSDB-MG) e José Aníbal (PSDB-SP).
Para evitar que ruídos na negociação comprometam a eleição à presidência da Câmara, líderes agora defendem que Temer adie a indicação à Secretaria de Governo para fevereiro, depois do resultado da eleição na Câmara.
Líder defende adiar
Para o líder do PSL na Câmara, Alfredo Kaefer (PR), a indicação de um parlamentar para a Secretaria de Governo não é “conveniente” no momento atual.
“A votação para a presidência da Câmara acontece em fevereiro. Por que nomear agora um articulador quando não há necessidade de movimentação política durante o recesso?”, questionou Kaefer.
Para o deputado, Temer precisa consultar o “Centrão”, além de PSDB e DEM antes de decidir quem será o novo secretário de Governo.
“Acho absolutamente necessário e politicamente correto o presidente conversar tanto com o Centrão quanto com os blocos separados de PSDB, DEM e PSB”, disse.