Folha.com | Poder: Relator diz que ‘não há mais clima’ para ‘arrogante’ governo Dilma

No discurso em que rebateu as críticas ao seu relatório, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) ressaltou na manhã desta segunda-feira (11) o caráter políticodo processo de impeachment e disse não haver mais clima para a continuidade de Dilma Rousseff no poder.

Segundo o deputado do PTB, a presidente comanda um governo “autoritário”, “arrogante” e “falido”.

“O fato de a Constituição ter entregue às Casas do Congresso essa decisão [impeachment] e não a um tribunal judicial reforça o componente político desse processo: não há mais clima para esse governo, não há base política de sustentação, não há mais credibilidade, ninguém mais acredita nesse governo. Como disse um líder da base, esse governo não sabe dialogar, é um governo arrogante e autoritário, que não aceita posição divergente”, disse o relator.

Jovair reafirmou ver “sérios indícios de cometimento de crime pela presidente da República” e “graves e sistemáticos atentados” cometidos por ela contra a Constituição na liberação de créditos suplementares sem autorização do Congresso e nas chamadas “pedaladas fiscais”, que são empréstimos feitos por bancos federais para cobrir despesas do Tesouro Nacional.

“Não podemos minimizar esses atos, são vários os prejuízos dessa ‘contabilidade criativa’: desemprego, recessão, paralisação dos programas sociais, inflação, aumento de preços, perda do poder de compra, alta de juros, serviços públicos falidos, há crise na saúde, na segurança pública, entre outros. Ninguém mais confia nesse governo e não há infelizmente qualquer perspectiva de mudança.”

A fala de Jovair foi aplaudida em pé pela oposição, ao final. Representando Dilma, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, acompanhou a fala a poucas cadeiras de distância.

SENADO

Ainda em sua fala, o relator disse que a sociedade “clama” pelo prosseguimento do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

“Não há condenação neste momento, nem estamos afastando a presidente de sua função. (…) A sociedade clama pelo aprofundamento das investigações, a população tem o direito de ver a denúncia analisada e julgada pelo Senado“, disse Jovair.

Seu relatório deve ser aprovado nesta segunda pela comissão especial do impeachment. A decisão final na Câmara deve ser tomada pelo plenário provavelmente no próximo domingo (17). Caso ela seja pró impeachment, cabe ao Senado abrir ou não o processo. Se o fizer, Dilma é afastada do cargo.

Em seu discurso final, Jovair atacou ainda os argumentos do governo de que seu relatório é “nulo” por não ter mostrado indícios de cometimento de crime que motive a destituição de um presidente. “Meu parecer não é nulo, nulos são os argumentos dos que defendem essa tese”, afirmou, dizendo não ter lido uma linha contrária que não viesse do governo ou da defesa.

Aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é adversário do governo, Jovair não comentou o fato de ter tido como um dos principais auxiliares na montagem do relatório um advogado da confiança do presidente da Câmara, do PMDB e do vice-presidente da República, Michel Temer.

Jovair pediu, ao final, que os deputados não tenham medo: “A população vai pensar que não tivemos coragem de iniciar uma investigação dessa. Não tenham medo, quantas coisas que perdemos por medo?”

FUTUROLOGIA

Ao iniciar a sessão da comissão do impeachment da Câmara, na qual será votado o parecer do relator -favorável ao afastamento de Dilma Rousseff-, o presidente da comissão, deputado Rogério Rosso (PSD-DF) disse que “qualquer previsão de resultado é futurologia”.

“Hoje qualquer previsão de resultado é futurologia. Naquele momento [do impeachment de Fernando Collor] de 1992, era difícil de errar o resultado”, disse Rosso.

Rosso também usou seu discurso de abertura para criticar a instalação de uma cerca na Esplanada dos Ministérios, da frente do Congresso até a rodoviária. Ela servirá para separar manifestantes contrários e a favor do impeachment nos dias de votação.

O presidente da comissão terminou citando a Oração de São Francisco de Assis, que diz, entre seus versos: “onde houver discórdia, que eu leve a união”.

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