O telefone de Michel Temer (PMDB) tocou por volta de 7h30 da manhã. Era o aviso de que havia uma decisão no STF (Supremo Tribunal Federal) para afastar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do mandato. Os aliados se apressaram em alardear um suposto “alívio” do vice-presidente com a notícia, mas não foi assim.
Temer montou quase de imediato uma equação problemática: se Cunha não era mais o presidente da Câmara, então, quem era? O substituto lhe traria complicações? Seria preciso intermediar uma nova eleição para o comando da Casa?
Afetaria a montagem de seu possível governo? Seria, de fato, uma boa notícia a uma semana da votação do afastamento de Dilma Rousseff no Senado?
O vice tentou responder a todas essas perguntas ao longo desta quinta (5). Se reuniu com os principais aliados, futuros ministros e dezenas de deputados. Fez questão de não explicitar nenhum comentário que pudesse melindrar Cunha.
O revés vivido pelo peemedebista suscitou especulações sobre qual poderia ser o impacto se, por exemplo, pressionado pela Justiça, decidisse fazer uma delação.
Para além das dúvidas que se instalaram nesta manhã, havia uma certeza: provocar um homem com o potencial ofensivo de Cunha certamente não era uma boa ideia.
Os que falavam em alívio no início da manhã avaliavam que a saída do presidente da Câmara afastava um dos fantasmas que rondam a possível gestão do vice.
Diziam que, com o peemedebista fora do jogo, não haveria espaço para o discurso de que Cunha seria o “vice do vice” e assumiria o Planalto em eventual ausência de Temer.
Mas, no início da tarde, o discurso otimista já havia dado lugar a um tom cauteloso. Em uma das únicas avaliações que fez do julgamento, Temer considerou desmedido o afastamento do peemedebista não apenas do cargo de presidente, mas também do mandato.
A decisão de Teori contaminara todas as conversas já agendadas por Temer. Um grupo de parlamentares do chamado “centrão”, aliado a Cunha, assinou uma nota de solidariedade ao peemedebista na varanda do Palácio do Jaburu.
O vice foi chamado a comentar o texto. Recusou-se. Disse que era um assunto interno da Câmara, e que preferia não se meter.
SUCESSÃO
Ao final do dia, o grupo de Temer ainda tinha dúvidas sobre qual a melhor alternativa: um mandato tampão do vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), até início de 2017 ou o apoio a uma nova eleição na Casa.
Defensores da segunda tese justificam a preferência com o histórico do pepista. Maranhão votou contra o impeachment de Dilma e criticou o processo de afastamento da petista. Como presidente da Câmara, teria agora nas mãos a chance de dar andamento a um pedido semelhante do qual o vice é alvo.
Há ainda o indicativo de que aliados de Cunha querem uma nova eleição e de que, uma vez liquidadas as chances do peemedebista voltar ao cargo, ele gostaria de participar da escolha de seu sucessor. Esse grupo sinaliza na direção de três nomes: André Moura (PSC-SE), Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF), o favorito.
Há o temor, no entanto, de que uma disputa dessa natureza impeça Temer de aprovar medidas vitais para o início de sua gestão. A principal e mais iminente preocupação do vice é com a alteração da meta fiscal, que teria de ser feita até o dia 22, para evitar a interrupção do pagamento de despesas básicas do governo, como luz e telefone.