Brasília — Em mais uma sessão em que nada foi votado, o Conselho de Ética que avalia a cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quebra de decoro, produziu falas de efeito. Durante uma discussão (das várias durante a reunião de ontem), o deputado Vinícius Gurgel (PR-AP) provocou risos de alguns colegas, mas a indignação do presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), ao interferir em um debate sobre o direito de fala. “É uma suruba isso aqui”. Ele referia-se à quantidade de partidos, o que resulta em muitas lideranças com possibilidade de tempo de pronunciamento.
Araújo não gostou da atitude. “Estamos no Parlamento. Espero que as palavras usadas aqui sejam condizentes (…) No dicionário político não tem essa palavra”, afirmou o presidente do conselho, que ainda pediu que expressão fosse retirada do registro da reunião. Em seguida, Gurgel pediu desculpa.
Enquanto isso, Cunha segue firme em suas manobras para evitar o andamento do processo pela sua cassação no conselho. Ontem, Marcelo Nobre, que representa Cunha, informou aos conselheiros que entrou com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando a análise do impedimento do presidente do colegiado, José Carlos Araújo. Na sessão de ontem, Nobre afirmou que o objetivo do mandado de segurança é suspender o andamento do processo até que o conselho responda questões de ordem formuladas por aliados de Cunha sobre a suspeição de Araújo. “Como a questão não é decidida, o mandato de segurança tem esse objetivo”, explicou.Na prática, o que os aliados do deputado buscam é o afastamento do presidente do colegiado.
O conselho se reuniu para ler o parecer prévio do relator Marcos Rogério (PDT-RO) pedindo a continuidade da ação disciplinar, mas os trabalhos foram encerrados com o início da ordem do dia dos trabalhos na Câmara. Uma nova troca da composição do conselho pode beneficiar Cunha. Desta vez, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), foi quem realizou a troca. Ele indicou João Carlos Bacelar (PR-BA) para a vaga de Sérgio Brito (PSD-BA), que vinha se ausentando das sessões. Bacelar era suplente e votou a favor de Cunha no ano passado. Os membros do conselho são eleitos. O objetivo é evitar a interferência partidária. Mas no processo de Cunha essa regra vem sendo descumprida. Pelo menos três titulares já renunciaram e os partidos puderam indicar outros membros para a vaga. No Solidariedade, Wladimir Costa (PA) tinha declarado voto contra Cunha. Deixou a função por licença médica e foi substituído por Paulinho da Força (SP). Retornou agora ao Conselho e a expectativa é de que vote a favor do presidente da Câmara. No PTB, o líder Jovair Arantes (GO) trocou Arnaldo Faria de Sá (SP), que votou contra Cunha, por Jozi Araújo (AP), que fez campanha para Cunha no ano passado.
TROCA A troca feita no bloco do PSD é a terceira. Sérgio Brito não vinha participando do processo, apesar de ser titular. Ele alegou problemas de saúde, mas conselheiros afirmam que o real motivo é o fato de ele ser um dos autores do requerimento que teria sido usado por Cunha para chantagear o lobista Júlio Camargo. O requerimento é uma das peças de acusação da Procuradoria-Geral da República contra Cunha no Supremo Tribunal Federal (STF). Bacelar é suplente no Conselho. Aliado fiel de Cunha, ele vinha participando da “briga” para ocupar a vaga de Brito nas votações. O suplente que vota é o primeiro a registrar presença em cada sessão. Para evitar que parlamentares do PT ocupem a vaga, Bacelar é sempre um dos primeiros a chegar. Quando a admissibilidade do processo de Cunha foi aceita por 11 a 9, Bacelar votou a favor de Cunha. Portanto, ainda que a troca não mude diretamente o placar se os votos do ano passado foram mantidos, o presidente da Câmara já tem garantido que seu aliado participará da votação.