O afastamento de Eduardo Cunha (PDB-RJ) da função de deputado federal, da presidência da Câmara e, por consequência, da linha de sucessão presidencial, foi uma medida necessária, de verdadeira profilaxia no Congresso Nacional. Como classificou o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa em redes sociais, ainda comentando a liminar do ministro Teori Zavascki, uma das mais “extraordinárias e corajosas decisões da história político-judiciária do Brasil”. Mas para que o trabalho da Suprema Corte brasileira não fique pela metade é essencial que agora Cunha perca seu poder, digamos, “influenciador” entre algumas dezenas de parlamentares.
De nada vai adiantar a ausência de Cunha nos corredores, gabinetes e no plenário da Casa se ele continuar a exercer sua influência no processo de escolha de seu sucessor na presidência, no Conselho de Ética que julga seu caso, em comissões de suma importância para a elaboração e aprovação de leis ou até mesmo na definição do ministério do provável governo Michel Temer.
Uma prova de como seu poder continuava intacto foi a atitude do vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PMDB-MA), ainda na quinta-feira. Enquanto deputados mais ligados à defesa de Dilma discursavam elogiando a liminar do juiz Teori, Maranhão apareceu de surpresa, deu a sessão por encerrada e mandou cortar o sinal da TV Câmara.
Cunha articula para que seu substituto seja alguém ainda mais alinhado com suas ideias, como Jovair Arantes (PTB-GO), relator do processo de impeachment de Dilma, ou Rogério Rosso (PSD-DF), da tropa de choque do próprio deputado afastado.
Cunha mantém também o controle do Conselho de Ética desde abril, quando articulou a troca de Fausto Pinato (PP-SP) por Tia Eron (PRB-BA). Sem contar eventuais traições, ele teria hoje 11 votos contra dez na mesa. E nunca é demais lembrar que o agora ex-presidente da Câmara emplacou o nome de Osmar Serraglio (PMDB-PR) na CCJ, colegiado por onde devem passar os recursos do deputado contra sua cassação. Serraglio falou abertamente em anistiar Cunha recentemente.