Correio Braziliense | Política: A delicada dança do poder

Passada a tensão no plenário da Câmara, saiba mais sobre os principais personagens desse complicado jogo político

Após a aprovação do relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), no plenário da Câmara dos Deputados, o cenário político brasileiro sofre uma drástica reviravolta. Do lado dos vencedores, o grupo ligado ao vice-presidente Michel Temer demonstrou que as negociações dos últimos dias surtiram efeito. Já para os governistas, capitaneados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, restou uma derrota histórica. O governo apostou tudo que tinha na tentativa de barrar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff ainda na Câmara, em vão. Lula esperava remontar os cacos da combalida base aliada e se tornar o homem-forte de Dilma numa eventual vitória. O tão sonhado posto à frente da Casa Civil da Presidência da República, para escapar de futuras ações ligadas à

Operação Lava-Jato, continua em compasso de espera por conta de decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes suspendendo o ato de posse do petista. As estratégias petistas nesse jogo político estão cada vez mais reduzidas. O tempo corre contra o governo. Enquanto isso, o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) está a um passo de assumir o comando do Palácio do Planalto. Nos últimos meses, Temer manteve uma distância calculada de Dilma, o que lhe permitiu ampliar as articulações e costurar uma aliança que pudesse permitir uma ampla vitória na Câmara, comandada pelo aliado da vez Eduardo Cunha, que trabalha agora para escapar de uma cassação por receber propina de empreiteiras ligadas à Petrobras e manter contas secretas na Suíça.

Michel Temer

Iniciou a carreira política em 1982 como procurador-geral do estado de São Paulo. Em 1997 presidiu a Câmara dos Deputados nos dois mandatos do Fernando Henrique Cardoso. Em 2005, aliou-se ao PT. Já nas eleições de 2010, Temer entrou na chapa vitoriosa de Dilma Rousseff, ascendendo à vice-presidência em 2011. Agora, Temer está a um passo de chefiar a nação, apesar do risco de também sofrer um processo de impeachment.

Eduardo Cunha

Em 2015, Cunha assumiu a presidência da Câmara com apoio de 14 partidos. Em julho, rompeu com o governo. Na 19º fase da Operação Lava-Jato, delatores envolveram Cunha em esquemas de propina na Petrobras e desvio de dinheiro para contas na Suíça. Ao ser ameaçado por governistas no Conselho de Ética, deu início ao processo de impeachment contra Dilma. Cunha ainda trabalha para preservar o mandato.

Romero Jucá

Presidente em exercício do PMDB e ex-líder do governo no Senado, Romero Jucá rompeu com o governo como toda a bancada peemedebista. A partir daí, começou a fortalecer a “campanha” de Michel Temer. Entre as missões de Jucá, está a de dar prosseguimento ao processo de impeachment no Senado, apesar da posição do presidente da Casa, o peemedebista Renan Calheiros, em se aliar ao governo.

Jovair Arantes

Relator do processo de impeachment na Comissão Especial, o deputado federal do PTB-GO está cotado para assumir a presidência da Câmara dos Deputados na hipótese da renúncia do Eduardo Cunha para evitar a cassação pelo Conselho de Ética. O parecer positivo de Jovair Arantes o alçou a um patamar de destaque na Casa entre os adversários do governo.

Rogério Rosso

Ainda no primeiro mandato como deputado federal, Rogério Rosso (PSD-DF) abdicou da liderança do partido e presidiu a Comissão Especial do Impeachment na Câmara e se manteve discreto até o anúncio do voto. Sua atuação foi avalizada pelo Supremo. Dos oito deputados do DF, sete disseram sim ao impeachment e apenas a petista Erika Kokay ficou do lado do Planalto.

Ciro Nogueira

Após anunciar o desembarque do PP, o líder do partido, senador Ciro Nogueira, demonstrou força ao anunciar punição para os parlamentares que destoarem da decisão da legenda em troca de cargos no governo. Entre as ações, Nogueira ameaçou trocar a liderança do partido em Pernambuco se Eduardo da Fonte mantivesse o voto pela permanência de Dilma no governo.

Eliseu Padilha

O segundo vice-presidente do PMDB, Eliseu Padilha, também se mostrou um exímio articulador do partido na batalha por atrair votos pró-impeachment. Com uma gestão peemedebista cada vez mais próxima, a previsão é de que Padilha também seja um braço direito de Temer no governo, já que intermediou alianças com partidos que estavam indecisos.

PMDB

O desembarque do PMDB foi o prenúncio do naufrágio de Dilma, decisão surpreendente, visto que o partido sempre foi uma peça chave dos governos petistas desde a era Lula. O partidomantém as presidências do Senado e da Câmara. Com a eventual aprovação do impeachment, o PMDB pode chegar à terceira presidência da República sem nunca ter encabeçado uma chapa eleita.

Lula

O ex-presidente esteve a frente da República por oito anos e terminou o seu mandato com índice de aprovação superior a 80%. Sempre próximo ao Planalto, Lula foi indicado para assumir a Casa Civil no governo Dilma, uma ação desesperada do PT para tentar manter unida a base aliada. No entanto, a posse de Lula permanece suspensa e o petista não conseguiu angariar votos suficientes para livrar a presidente.

Dilma

Afiliada ao Partido dos Trabalhadores, peça importante no plano energético do governo Lula, desde 2002, Dilma passou do Ministério de Minas e Energia para Casa Civil em 2005. Com apoio de Lula, empreendeu uma campanha vitoriosa em 2010 rumo à Presidência. No fim do primeiro mandato, articulações políticas deram força ao processo de afastamento da presidente, acusada de crime de responsabilidade fiscal.

José Eduardo Cardozo

Enquanto ministro da Justiça, foi duramente criticado por parlamentares do PT por não ter controle sobre a Polícia Federal e pelos desdobramentos da Lava-Jato. À frente da Advocacia-Geral da União, coube a Cardozo ser o defensor do governo da presidente Dilma no processo de impeachment. Até agora, a missão fracassou.

Jaques Wagner

Deixou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil e se colocou à disposição do ex-presidente Lula. Wagner tentou a todo custo manter a base próxima a Dilma, mas não conseguiu. Tarefa que passou a Luiz Inácio Lula da Silva, que também sucumbiu ao trator peemedebista.

José Guimarães

Como líder do governo na Câmara, cabia a José Guimarães (PT-CE) a representação de Dilma Rousseff e a negociação de votos em apoio ao governo tanto na Comissão Especial do impeachment quanto na votação em plenário. Falhou na missão.

Valdemar Costa Neto

Figura ainda influente no PR, Valdemar Costa Neto não conseguiu convencer a maioria da bancada de seu partido a votar contra o impedimento. O PR seguiu rumo aos objetivos da tropa peemedebista articulada por Temer, Jucá e Padilha.

Leonardo Picciani

O líder do PMDB na Câmara manteve a lealdade à presidente Dilma, votando não pelo impeachment e seguindo na contramão da bancada. Picciani disputou a liderança do partido na Câmara com Hugo Mota, candidato apoiado por Cunha. Com a posição ao lado do Planalto, perde força na bancada.

PT

O Partido dos Trabalhadores chegou à Presidência em 2002, carregando uma bandeira de cunho social e mudanças na base da economia. Há 14 anos no governo, o partido enfrenta sua maior crise. Viu, em pouco tempo, partidos da base aliada desembarcarem do governo e figuras importantes, como Lula, se tornarem alvos da operação Lava-Jato.

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