Produtor rural, médico e professor licenciado da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), com especialização em Medicina do Trabalho, Medicina Intensivista e Anestesiologia, o Deputado Federal Marcos Montes (PSD/MG) iniciou seu terceiro mandato (2015/2018) já com um grande desafio a ser enfrentado: presidir a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), um dos colegiados mais representativos e atuantes do Congresso Nacional, com 236 integrantes, entre deputados (214) e senadores (22).
Foi empossado na Frente no dia 24 de fevereiro de 2015, em uma solenidade concorrida, e em meio a muita expectativa por parte das lideranças rurais presentes. Afinal, o Brasil entrava em um período político e econômico complicado – que viria depois, a ser considerado o pior momento do país.
No dia 14 de fevereiro de 2017, terça-feira, às 21h, Marcos Montes transfere o comando da FPA para o colega Nilson Leitão (PSDB-MT). “Sem qualquer arrependimento e certo de ter feito o melhor na defesa da categoria” – diz ele, nesta entrevista. Recém-eleito líder da bancada do Partido Social Democrático, ele chegou a ter o nome lançado pela FPA para disputar a presidência da Câmara. “Fico honrado com a deferência, mas eu só entraria na disputa se houvesse um apoio do partido ao qual sou filiado”, reagiu. No final, PSD e FPA acabaram fechando com a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Foi a melhor escolha para o momento que o Brasil está vivendo”, concordou Marcos Montes.
E não foi a única decisão coincidente entre as duas bancadas – a ruralista e a do PSD – comemorada por ele. Defensor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e do apoio ao governo Michel Temer (PMDB), Marcos Montes teve participação importante nos dois processos.
Foi em Uberaba, MG, cidade onde é majoritário, tem domicílio eleitoral e foi prefeito em duas gestões, que o parlamentar cumpriu seus últimos compromissos oficiais na presidência da FPA. Ao lado do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, ele participou da abertura da I Conferência Internacional de Desenvolvimento Econômico e Erradicação da Pobreza por meio da Agricultura e de encontro com representantes de sindicatos, produtores e empresários da cadeia produtiva do leite. Confira a íntegra da entrevista…
O senhor diria que está encerrando sua gestão na presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) do jeito que o senhor gostaria que fosse?
Marcos Montes – Com certeza absoluta. Em que pesem os problemas que todos nós, brasileiros, estamos enfrentando, não há como negar que obtivemos avanços importantes nestes dois últimos anos. E fecho esta gestão com chave de ouro, participando de dois grandes eventos na minha cidade, Uberaba. A I Conferência Internacional de Desenvolvimento Econômico e Erradicação da Pobreza por meio da Agricultura é promovida pela Comunidade dos Países Africanos de Língua Portuguesa, em parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil Moçambique, foi lançada em 2015 e preparada ao longo desse tempo todo. Não é por acaso que tem o apoio de representantes de instituições financeiras mundiais como o FMI, Banco Mundial, Banco de Desenvolvimento Africano, entre outros. Além disso, lideranças de sindicatos, produtores e empresários da cadeia produtiva do leite se reunirão com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi.
O que o senhor apontaria como avanços importantes?
Marcos Montes – Veja bem: o cenário ainda é muito ruim, e pode piorar se não revertermos o quadro atual. Entretanto, graças à luta, à força de vontade, ao idealismo e ao sonho de um Brasil melhor e mais justo, a Frente Parlamentar da Agropecuária conseguiu algumas conquistas importantes. Uma das conquistas mais importantes, na minha opinião, foi o reconhecimento, por parte da sociedade urbana, incluindo a imprensa nacional, de que a agropecuária é o principal alicerce da economia do país. Ainda existem setores que continuam se recusando a enxergar esta verdade. Preferem tapar o sol com a peneira, ainda se agarrando a ideias ultrapassadas, obsoletas, completamente fora da realidade mundial. Esse pessoal não consegue reconhecer a importância do homem do campo – trabalhador que põe comida na mesa do brasileiro, que segura a balança comercial, que dá empregos, que movimenta a economia. Felizmente são poucos, mas é inacreditável que ainda existam e que consigam fazer um certo barulho. Também considerou muito importante a aproximação com o governo federal.
De que forma essa aproximação se viabilizou?
Marcos Montes – Pela primeira vez, em 14 anos de existência, a FPA recebeu um presidente da República em sua sede. Entendo que a visita de Michel Temer, dia 12 de julho de 2016, foi pragmática no sentido de abrir possibilidade de diálogo e de apontar que novos tempos estariam por vir. O próprio Palácio do Planalto tratou a visita como uma agenda positiva, e da parte da FPA, a sede foi pequena para tanta gente, entre deputados federais, senadores, lideranças nacionais da agropecuária que marcaram presença. Tivemos a oportunidade de repassar a ele, de forma direta, sem intermediação, um documento de sete páginas com 58 propostas para o setor. Elas envolvem Governança Institucional; Política Agrícola; Direito de Propriedade e Segurança Pública; Meio Ambiente; Infraestrutura e Logística; Defesa Agropecuária; Relações Trabalhistas. Revindicações vão desde a oferta de crédito, principalmente para custeio; busca de capitais externos para financiar a agricultura; limitação da taxa dos juros controlados à inflação estimada; modernização das leis; implantação de um cadastro único, completo e atualizado dos produtores rurais e suas cooperativas; elaboração de uma Política Nacional de Armazenagem; priorização e destinação de recursos para pesquisas referentes a temas alinhados com o setor produtivo, principalmente relacionados às ameaças fitossanitárias. Claro que há muito a se fazer, mas muito já foi feito.
O senhor apoiou o impeachment da ex-presidente. Mudou alguma coisa?
Marcos Montes – Mudou sim. E muito. Pra começar, sem o impeachment não estaríamos hoje, testemunhando a reação positiva da economia. Ainda há muito a se fazer, mas já existem acenos importantes, como a queda da inflação e dos juros. Precisamos agora aprovar as reformas trabalhista, previdenciária, política e de segurança pública. Parece muita coisa, e é. Inclusive, haverá desgastes. Mas, não tenho dúvida de que 2017 será importante nesse sentido. Sabemos que as melhorias não vão acontecer a curto prazo, pois os últimos governos – de Lula e Dilma – colocaram o Brasil numa situação de calamidade. Programas sociais, tipo Bolsa Família; a saúde pública (e a privada); educação; segurança pública – tudo foi sucateado.
A Frente Parlamentar da Agropecuária foi a primeira frente a tomar uma posição pública em favor do afastamento da ex-chefe do executivo. Qual foi a motivação da atitude?
Marcos Montes – A motivação foi a necessidade de sairmos desta crise ética e econômica que estava levando o Brasil para o fundo do poço.
De que forma a agropecuária foi impactada com a crise?
Marcos Montes – A agropecuária tem sido prejudicada ao longo dos últimos governos de uma forma generalizada. Apesar da importância do setor, não tiveram a menor consideração.
O que o senhor espera do seu substituto na presidência da FPA?
Marcos Montes – Não apenas espero. Eu tenho certeza de que ele fará uma grande gestão, compromissada com o desenvolvimento da agropecuária, e claro, com o desenvolvimento do Brasil de um modo geral. O colega Nilson Leitão é um cidadão, um político da mais alta qualidade. E terá, ao seu lado, pessoas tão compromissadas quanto ele.
Da assessoria