Mel Tominaga*
Em audiência da Comissão de Agricultura, deputado diz que segmento de hortigranjeiros precisa voltar a contar com a eficácia do sistema para avançar e vencer gargalos na cadeia produtiva
Ao fazer um veemente discurso em defesa do cooperativismo, o deputado federal Junji Abe (PSD-SP) pregou a urgência do resgate de cooperativas que agasalhem o segmento de hortigranjeiros “para os produtores avançarem na atividade e vencerem os grandes gargalos existentes na cadeia produtiva”. Ele falou sobre a importância do sistema nesta terça-feira (17/04/2012), durante audiência pública realizada pela Capadr – Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, órgão técnico do qual é membro titular.
Presidente da Pró-Horti – Frente Parlamentar Mista em Defesa do Segmento de Hortifrutiflorigranjeiros e diretor sindical da Frencoop – Frente Parlamentar do Cooperativismo, Junji frisou que o grande inimigo dos cooperados são as turbulências na economia nacional. “Livres dos revezes econômicos, as cooperativas vão muito bem, obrigado”, apontou, rememorando a escalada inflacionária dos anos 80 que exterminou potências do agronegócio, como a Cotia e a Sul Brasil.
Desde a quebradeira dessas cooperativas agrícolas, observou Junji, nenhuma outra surgiu para desenvolver funções de pesquisa, assistência técnica e comercialização – tanto na compra de insumos como na venda do produto final – dirigidas à produção de olerícolas, aves e ovos. “Com a união de gente com objetivos comuns, é possível produzir mais, colher os frutos esperados e distribuir melhor os resultados”, sintetizou. Ele definiu que o cooperativismo é mais que um sistema econômico, porque se propõe a fazer “uma reforma social” dentro do capitalismo.
Apenas em algumas cidades, ex-cotianos conseguiram transformar parte da antiga estrutura existente em cooperativa. Mesmo assim, acrescentou o deputado, são organizações pequenas e sem condições operacionais de obter os benefícios proporcionados pelo sistema cooperativista.
Ao evidenciar que o conceito do sistema cooperativista vale para toda e qualquer atividade, Junji focou o setor agrícola para mostrar a importância das cooperativas. “Só para falar o básico, dá para comprar insumos pagando menos, compartilhar experiências e conhecimentos para aperfeiçoar os métodos de plantio, aumentar a produtividade e escoar a produção com mais agilidade, menos perdas e melhores ganhos”.
Segundo o deputado, a cooperativa agrícola abrange os atores e respectivas atividades ligadas à agricultura. “Não é somente o cultivo, transporte e comercialização, mas todo o agronegócio, porque o cooperativismo é a alavanca capaz de igualar os pequenos aos grandes”, argumenta, indicando o sistema como vital para o fortalecimento e expansão das cadeias produtivas abrangidas pela Pró-Horti.
Muitos pequenos produtores não conseguiram acompanhar o desenvolvimento da agricultura que deu origem ao agronegócio. “Ficaram isolados, cada um por si”, analisou Junji, comentando que a postura favoreceu o surgimento de grandes empresas direcionadas, por exemplo, à higienização e venda de hortaliças embaladas. “O agricultor arca com o plantio, o transporte e todos os riscos, mas não ganha mais por isto. Ou seja, não se beneficiou desse avanço no mercado”.
Junji disse que essa é uma pequena amostra do que a união numa cooperativa poderia fazer em benefício dos pequenos produtores. “As etapas de higienização, embalagem e até processamento das hortaliças poderiam ser realizados pelos próprios cooperados. Juntos, teriam condições de agregar valor a seus produtos e, com certeza, todos ganhariam mais, detalhou ao alertar que, no mundo globalizado, os pequenos serão esmagados pelos grandes, se não tiverem o amparo de uma cooperativa forte.
O raciocínio é simples, como resumiu o parlamentar. Envolve a união de vários produtores de pequeno e médio portes para se igualarem aos grandes. Quanto mais cooperados, maior o poder para enfrentar a concorrência. “É assim que se igualam as oportunidades no mercado”, recomendou e completou: “O cooperativismo é vital no mundo moderno porque prega a igualdade na busca da justiça social”.
As considerações de Junji receberam o aval dos participantes da audiência pública promovida pela Capadr para debater o Ano Internacional das Cooperativas, comemorado em 2012, com apoio da ONU – Organização das Nações Unidas e participação do governo federal. O evento foi realizado a pedido dos deputados Assis do Couto (PT-PR), Abelardo Lupion (DEM-PR), Celso Maldaner (PMDB-SC) e Luis Carlos Heinze (PP- RS).
Dados de dezembro de 2010 mostram que o Brasil registra 9.016.527 associados de 6.652 cooperativas de diferentes segmentos econômicos que, juntas, geram 298.182 empregos e atingem o faturamento anual de U$ 4,4bilhões em exportações. No mundo, o cooperativismo marca presença em 100 países, soma 1 bilhão de cooperativistas e emprega 100 milhões de pessoas. As 300 maiores cooperativas faturam nada menos que US$ 1,6 trilhões por ano.
*Assessora de imprensa do dep. Junji Abe