Em mais uma manobra para atrasar a conclusão do processo de cassação do deputado André Vargas (ex-PT-PR), três integrantes do PT arrolados como testemunhas não compareceram nesta quarta-feira ao Conselho de Ética da Câmara, que analisa o caso. Sem dar explicações formais ao colegiado, o presidente do partido, Rui Falcão, e os deputados Vicentinho (PT-SP) e Candido Vaccarezza (PT-SP) se recusaram a depor no caso. Os três haviam sido convidados pelo relator Júlio Delgado (PSB-MG) para testemunhar no processo em que Vargas é acusado de manter estreitas relações com o doleiro Alberto Youssef e de colocar o mandato a serviço dos interesses do empresário.
“Ao não comparecer, as testemunhas demonstram que há um ato de proteção do mandato do deputado André Vargas”, disse Delgado. “Existe uma clara proteção daqueles que pedem a expulsão do deputado do PT”, completou o relator. Preso na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, o próprio Alberto Youssef será testemunha tanto do relator quanto da defesa de Vargas. Por decisão judicial, o depoimento dele será feito via videoconferência, a partir das 10 horas do dia 1º de julho.
Nesta quarta-feira estava previsto o depoimento de sete testemunhas listadas pelo relator para embasar o processo contra o ex-petista. Além de Falcão, Vaccarezza e Vicentinho, o Conselho de Ética esperava ouvir os donos do laboratório de fachada Labogen, Leonardo Meirelles e Esdra Ferreira, o dono da Elite Aviation, Bernardo Tosto, e o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha. Nenhum deles compareceu ao colegiado e apenas Bernardo Tosto se dispôs a responder as perguntas dos parlamentares por escrito. O Conselho de Ética não tem poder de convocação, o que permite que testemunhas ignorem os pedidos de depoimento.
Com as ausências desta quarta, um novo convite será feito às testemunhas do relator para que compareçam a Brasília no próximo dia 25. Caso ignorem novamente o pedido de depoimento, elas serão desconsideradas na elaboração do relatório sobre o pedido de cassação de André Vargas. “As pessoas estão apostando no tempo, e não nas testemunhas ou na tese de que são inocentes”, disse o deputado José Carlos Araújo (PSD-BA).
Vargas começou a cair em desgraça após a revelação de que ele e sua família utilizaram um jatinho de Youssef para passar as férias de fim de ano em João Pessoa (PB). A situação se agravou após reportagem de VEJA revelar novos detalhes de sua estreita ligação com o doleiro Alberto Youssef, preso por comandar um esquema de lavagem de dinheiro investigado pela operação Lava-Jato.
Youssef, a quem Vargas chamava de “irmão”, mantinha contato constante com o congressista: os dois trabalhavam para enriquecer juntos fraudando contratos com o governo federal. Mensagens de celular interceptadas pela Polícia Federal evidenciaram que Vargas exercia seu poder para cobrar compromissos de Youssef.
Desdobramentos da investigação da PF respingaram o petista Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo. Conforme mensagens de celular interceptadas pelos policiais, Vargas articulava para ajudar o doleiro a obter um contrato com o Ministério da Saúde. Em setembro do ano passado, por exemplo, técnicos da pasta foram destacados para certificar o laboratório farmacêutico Labogen Química Fina e Biotecnologia, de propriedade do doleiro. A ajuda foi materializada em um contrato inicial de 30 milhões de reais firmado com o governo.