Parecer preliminar aponta quebra de decoro parlamentar. Argôlo terá dez dias para apresentar defesa. Investigações mostram indícios de ligação com doleiro
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira um parecer preliminar, por quebra de decoro parlamentar, contra o deputado Luiz Argôlo (SDD-BA), citado na Operação Lava-Jato da Polícia Federal por seu envolvimento com o doleiro Alberto Youssef. A investigação da PF apura um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado até 10 bilhões de reais.
A votação desta terça-feira determinou que há indícios suficientes para levar a investigação adiante no colegiado. No parecer, o deputado Marcos Rogério (PDT-RO) cita “fortes evidências de que o deputado Luiz Argôlo está envolvido com o doleiro Alberto Youssef e dele recebeu elevadas quantias de dinheiro”. São mencionadas também mensagens interceptadas pela Polícia Federal entre Argôlo e Youssef que “mostram que o doleiro, atualmente preso na carceragem da Polícia Federal do Paraná, pagou contas do deputado representado”.
O relator do processo também apontou que Youssef teria transferido 120.000 reais ao chefe de gabinete de Argôlo, Vanilton Bezerra. “As condutas, em tese, configuram ato atentatório ao decoro parlamentar e há indícios suficientes de materialidade e autoria”, aponta Marcos Rogério no relatório. Este não é o único processo que corre contra Argôlo no Conselho de Ética. Há outra representação por quebra de decoro parlamentar enviada pela Mesa Diretora da Casa que tramita em estágio mais avançado, por ser desnecessária a análise de admissibilidade. O relator é o mesmo.
O presidente do colegiado, deputado Ricardo Izar (PSD-SP), informou que Argôlo foi notificado nesta terça sobre este processo e deverá apresentar sua defesa escrita em 10 dias úteis. Com a votação de hoje, Argôlo será notificado novamente. Embora as duas representações tratem do mesmo tema, eles tramitarão de forma independente e obedecerão a ritos distintos.
Na última sexta-feira, Argôlo pediu licença médica do mandato parlamentar por quinze dias. Ele alegou problemas cardiovasculares. A licença não impede que o processo de investigação contra o parlamentar continue. A situação do deputado junto ao partido Solidariedade é delicada. Argôlo foi exonerado do cargo de vice-líder do partido pelo deputado Fernando Francischini (PR), líder da legenda.
Lava-Jato – Um relatório elaborado pela PF mostra que o deputado recebia dinheiro de Youssef, como revelou reportagem de VEJA. O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela investigação no Paraná, determinou a remessa ao Supremo Tribunal Federal (STF) das conclusões policiais e das transcrições de conversas telefônicas de Youssef em que Argôlo aparece como interlocutor do doleiro.
Como Argôlo possui foro privilegiado por ser parlamentar, só o STF poderá decidir se ele deve ser investigado por essas suspeitas. Moro destaca que o deputado foi alvo da operação e que só foi descoberto seu envolvimento com o doleiro porque os telefones de Youssef foram monitorados.
De acordo com a PF, eles trocaram 1.411 mensagens. O deputado usava o telefone funcional da Câmara para falar com o doleiro e também um telefone exclusivo para comunicação entre eles, cujos créditos eram pagos por Youssef. Em diversos momentos, Argôlo cobra entregas de dinheiro para si próprio e para outros.