Enquanto a oposição endurecia ontem o discurso contra ele e o governo tentava contemporizar, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) resistia às pressões para renunciar, afirmando que não precisa do apoio de nenhuma das duas partes para permanecer na presidência da Câmara dos Deputados. “Fui eleito [presidente da Câmara] por maioria absoluta e em primeiro turno”, disse ele a jornalistas. “E eu não fui eleito nem pelo governo nem pela oposição. Você há de convir que o governo tinha candidato e a oposição tinha candidato. Não será com isso [apoio político] que eu vou me preocupar.”
Cunha viu as pressões contra a sua permanência na presidência da Câmara, e pela cassação de seu mandato parlamentar, aumentarem substancialmente após o surgimento, na sexta-feira passada, de cópias de documentos seus e de familiares vinculando-os a contas bancárias na Suíça. O pemedebista virou alvo de nova investigação a pedido do Ministério Público Federal pela suspeita de ocultar no exterior um patrimônio avaliado em R$ 60 milhões.
Uma representação apresentada pelo PSOL e pela Rede pede abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra Cunha no Conselho de Ética da Câmara, que pode levar à cassação de seu mandato. Ontem, em meio a rumores de que a oposição endureceria o discurso contra ele, Cunha tentava minimizar o gesto. “Prefiro não comentar as ações políticas de quem quer que seja. É uma discussão normal, para mim não muda nada.”
O governo orientou os líderes da base a não atacarem publicamente o pemedebista e deixarem a discussão para o Conselho de Ética da Câmara. O ministro Ricardo Berzoini (PT), da Secretaria de Governo, orientou ontem os partidos aliados a “não tensionar o ambiente” na Casa, sob o risco de não aprovarem a agenda necessária retomar o crescimento.
Em almoço com Cunha, líderes da base aliada e independentes ignoraram as denúncias contra o pemedebista e discutiram uma forma de sair da “agenda negativa”. “O problema dele é no Conselho de Ética, não no plenário. No plenário precisamos votar agendas positivas e estruturantes para a economia”, afirmou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF).
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), usou um discurso semelhante. “O diálogo do governo com o presidente da Casa é no sentido de fluir a pauta, é de votar as matérias de interesse do país”, afirmou Guimarães. “Sobre as questões internas, é o Parlamento, são as lideranças partidárias dentro da Casa que precisam se manifestar.”
Apesar da suavidade dos discursos dos governistas em relação ao seu caso, Cunha voltou ontem a trocar farpas com a presidente Dilma Rousseff. Ele usou de ironia para rebater a afirmação da presidente Dilma Rousseff, em visita à Finlândia, de que não há corrupção em seu governo. “Não sabia que a Petrobras não é do governo”, disse o pemedebista.
Pressionados pelos eleitores e por seus próprios deputados, líderes da oposição reforçaram ontem o pedido público para que o presidente da Câmara se afaste do cargo. O posicionamento, contudo, dividiu a oposição – o Solidariedade, do deputado Paulinho da Força (SP), não concordou com o tom e reclamou que divergiu do combinado em reunião com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG).
“Alguns partidos da oposição acham que é importante reafirmar o que já foi dito [em nota no feriado]. Nós não vimos necessidade de fazer um ato sem nenhum fato novo”, disse o líder do SD, deputado Arthur Maia (BA).
A oposição ainda depende do presidente da Câmara para dar andamento ao pedido de impeachment – pelo menos enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) não decide sobre a possibilidade de recurso ao plenário para dar início ao afastamento da presidente Dilma Rousseff-, mas foi pressionada a tomar uma postura mais incisiva.
Na reunião da bancada do PSDB, a maioria foi favorável a cobrar o afastamento de Cunha. “Um erro, estamos rifando o impeachment”, disse um parlamentar favorável ao acordo com o pemedebista. Cunha foi avisado antecipadamente da nova decisão, mas novamente protestou.
Em pronunciamento no fim da tarde, PSDB, DEM e PPS afirmaram que as denúncias são “gravíssimas”. “Achamos que é o melhor para a Câmara dos Deputados o afastamento do presidente Eduardo Cunha”, afirmou o líder da minoria, Bruno Araújo (PSDB-PE).