Raphael Di Cunto e Thiago Resende
De Brasília
A volta do recesso parlamentar, marcada por derrotas na Câmara dos Deputados e a saída de dois partidos da base aliada – PDT e PTB -, levou parlamentares a defender que o atual modelo de coalizão “se exauriu” e que é preciso recompor com os aliados rapidamente antes que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) perca todo seu prestígio.
Temer, afirmam os líderes, é a última saída do governo para garantir a governabilidade. O vice-presidente tem o prestígio de quem é o presidente nacional do PMDB, que controla o Congresso, e de quem presidiu por três vezes a Câmara. Mas as derrotas nesta semana, em que o governo foi incapaz de aprovar um requerimento – assinado por todos os líderes da base – para adiar por três semanas a discussão de um projeto que aumentava os salários de carreiras funcionalismo mostrou que a arquitetura montada não funciona mais, dizem.
“Não é razoável que os ministros indicados por partidos não tenham influência nas bancadas parlamentares. Eles precisam ser mais relevantes”, afirmou o vice-líder do governo, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que aponta uma grande mudança econômica e política no país desde a montagem deste ministério. “A articulação política que foi estruturada para dar apoio ao governo se exauriu”, disse.
Para o líder do PR na Câmara, Maurício Quintella (AL), a máquina pública está inchada, com peso principalmente do PT. “Tem que desaparelhar o Estado. Tirar o excesso para melhorar a eficiência”, disse, defendendo que – apesar da limpa-o governo deverá nomear os indicados de partidos aliados para cargos de segundo escalão que ainda não foram preenchidos.
Lessa diz que os líderes da base reclamam da dificuldade em conter traições nas respectivas bancadas, apesar dos apelos. Em relação ao projeto de aumento de salários, afirma que o partido tentou adiar a votação, mas “havia a expectativa de que questões partidárias [como liberação de emendas] fossem resolvidas no recesso”. Mesmo acreditando que a situação do país vai melhorar no futuro, ele não sabe se será possível a presidente Dilma Rousseff e o PT recuperarem a popularidade. “E o Congresso é extremamente sensível ás ruas.”
Na quarta-feira, a bancada do PDT na Câmara, que constantemente criticava a política econômica da presidente Dilma e votava contra os desejos do Planalto, decidiu, por unanimidade, assumir uma postura independente ao governo. Já o PTB reclama que os deputados não são atendidos por ministros e também ficou irritado com alguns vetos de Dilma ao sancionar a medida provisória que renegocia dívidas dos clubes de futebol.
Nos bastidores, a independência de ambos é vista como falha da articulação política do governo. O Planalto prometeu várias vezes entregar duas secretarias do Ministério do Trabalho que estão com o PT para o PDT – que em teoria controla a pasta – e até sinalizou com a nomeação do escolhido pelos pedetistas, mas o recesso acabou e isso não ocorreu.
Problema semelhante ocorre com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro (PTB). Ele foi indicado por sua relação com o empresariado e Dilma não combinou com o partido. O resultado é que a bancada não se considera representada nem atendida adequadamente pelo petebista.
“Toda relação política, principalmente de base de governo, significa governar junto. O país tem 27 unidades da federação e a prática é compartilhar funções regionais com a sua base. Isso não foi resolvido”, observou o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF). O governo, avalia ele, tem que reunir mais a base aliada ou dificilmente vai conseguir aprovar as propostas desejadas no Congresso. “Precisa ter esse momento de reflexão e reamimação”, completou.
Em meio às pressões para que o governo mude sua relação com o Congresso, parlamentares viram com ressalvas as declarações de Temer de que “é preciso alguém para unir o país”. Enquanto entusiastas do impeachment de Dilma, como o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), viram o pemedebista se colocar pela primeira vez como alternativa para o país, aliados de Temer duvidaram.
“O Michel não é dado a esses arroubos, foi um apelo à governabilidade. Mas o cenário é inevitável e ele vai ser levado a aceitar isso: no quatro atual, ele é a única personalidade do país que pode exercer esse papel”, afirmou o deputado Danilo Forte (PMDB-CE). “O problema do governo e da Dilma é de credibilidade.”
Já o ministro dos Portos, Edinho Araújo (PMDB), disse que a fala foi mal interpretada e a marca do vice-presidente é o “equilibro e seriedade”. “Não conversei com o presidente Temer. Não quero analisar uma palavra destacada em uma frase, mas o conjunto, o comportamento dele em todos esses anos, sempre foi de um homem extremamente preocupado com o país”, afirmou.