Valor Econômico: Gestão da Sabesp levará ao esgotamento da Cantareira, diz procuradora

BRASÍLIA  –  A Procuradora da República Sandra Shimada Kishi, responsável pela área de abastecimento no Ministério Público Federal em São Paulo, afirmou que “falta credibilidade” à Sabesp, empresa de saneamento de São Paulo, na gestão da crise hídrica no Estado. A procuradora participava de audiência pública convocada pelo deputado Guilherme Campos (PSD-SP) na Comissão de Desenvolvimento, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados. Segundo ela, a estratégia usada pelo Estado levará ao colapso do Cantareira, deixando 14 milhões de pessoas “à própria sorte”.

A procuradora Kishi disse que a falta de credibilidade da companhia administrada pelo governo paulista é decorrente do uso da água do reservatório Atibainha, sem autorização, em desacordo com regras estabelecidas previamente e descumprindo decisão da Justiça. A empresa começou a retirar essa água alegando emergência. Segundo ela, isso vai prejudicar o abastecimento de três milhões de pessoas no interior do Estado já que a captação do Cantareira fica abaixo do ponto de retirada desse volume morto para abastecer a região da Bacia PCJ (Piracicaba-Capivari-Jaguari). Por isso, segundo ela, não se poderia tirar a água do Atibainha sem um planejamento.

“Está faltando credibilidade à Sabesp. Premissas técnicas, elaboradas pelos próprios órgãos gestores, estão sendo ignoradas”, afirmou a Procuradora citando a Sabesp e o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) de São Paulo.

Nesta quinta-feira, o sistema Cantareira opera com 10,8% de sua capacidade.

A procuradora informou que já foram abertos 12 inquéritos civis públicos para apurar as responsabilidades da crise hídrica e quatro ações civis já foram impetradas na Justiça. Segundo ela, é preciso definir como será usada a parcela do segundo volume morto porque só há duas alternativas para São Paulo: reduzir os limites de retirada de água ou aguardar uma mudança significativa dos índices pluviométricos o que, segundo ela, é cada vez menos provável.

“São Paulo parece que adotou a segunda alternativa, num cenário de normalidade, que cada vez menos existente. Estamos a depender do retorno das chuvas. Mas essa aposta levará ao esgotamento do Cantareira, deixando à própria sorte 14 milhões de pessoas”, afirmou Kishi lembrando que são necessárias 60 dias seguidos da pior chuva em seis anos para recuperar o Sistema Cantareira.

Segundo ela, na próxima semana será tratado em reunião a possibilidade retirar a permissão de captação de água por setores nas regiões de São Paulo.

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