Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – Acuado após duas semanas com ministros atingidos por denúncias, o governo do presidente interino Michel Temer tenta sair da defensiva e criar fatos positivos, mas as investigações da operação Lava Jato e gravações do ex-presidente da Transpetro, que já derrubaram dois ministros, ameaçam causar novas baixas na equipe.
Na mira como os mais prováveis a serem atingidos por novas denúncias estão ao menos dois ministros, Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), segundo fontes do Palácio do Planalto.
Para tentar convencer a sociedade de seu compromisso com o combate à corrupção e com a Lava Jato, Temer usará o discurso na cerimônia de posse de cinco auxiliares na manhã de quarta-feira -Pedro Parente, na Petrobras, Maria Silvia Marques, no BNDES, Paulo Cafarelli, no Banco do Brasil, Gilberto Occhi, na Caixa Econômica Federal, e Ernesto Lozardo, no Ipea- para reforçar o recado.
“É um discurso que não agrada a parte política, mas que tem de ser feito”, disse uma fonte palaciana.
Depois de forçar a demissão do segundo ministro em duas semanas, Temer avaliou nesta terça-feira que se instalou um “modus operandi” no governo, e quem tiver problemas terá de sair. O presidente interino, segundo a fonte, não terá condições de resguardar ninguém.
Parte do governo, afirmou a fonte, defende um “pente-fino” prévio para que os ministros comprometidos já deixem os cargos antes de serem obrigados a sair, mas a ideia não avançou.
Em parte porque o próprio governo não sabe o que esperar das próximas delações premiadas e investigações. Os riscos, no entanto, rondam o governo, especialmente nos casos de Geddel e Henrique Eduardo Alves.
De acordo com uma segunda fonte palaciana, o próprio ministro da Secretaria de Governo tratou da possibilidade durante almoço com líderes da Câmara na casa do deputado Rogério Rosso (PSD-DF). Afirmou que novas denúncias vão aparecer, mas o governo tem que continuar trabalhando e quem for citado, disse, falando a respeito de si mesmo, terá que responder e se explicar para o presidente.
O ministro não é ainda oficialmente investigado. No entanto, já foi citado mais de uma vez. Em uma delas, pelo ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), que negocia acordo de delação na Lava Jato, como tendo indicado o ex-senador Delcídio do Amaral, também delator, para um cargo na Petrobras.
Geddel nega, mas Delcídio confirma. Geddel também teve mensagens trocadas com o dono da empreiteira OAS, Léo Pinheiro, posteriormente preso na Lava Jato, nas quais tratava de concessões de aeroportos, mencionadas em um relatório da Polícia Federal.
Segundo a fonte, Geddel está preocupado “ainda mais do que Henrique”. O ministro do Turismo é alvo de um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que seja incluído em um inquérito já em andamento no Supremo Tribunal Federal. Alves é suspeito de pedir doações à empreiteira OAS em troca de favores.
O nome do ministro também apareceu em uma lista com supostas doações da Odebrecht apolíticos. Alves afirma que todas as doações que recebeu foram legais.
Quando o senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento e investigado pela Lava Jato, caiu por ter sido pego em gravações do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado falando em “esfriar a operação”, Temer chamou Henrique para tratar dos riscos.
O ministro, que voltou ao mesmo cargo que ocupara no governo de Dilma Rousseff, garantiu que não havia nada a temer. No Planalto, no entanto, é visto por alguns auxiliares do presidente interino como “uma bomba-relógio”.
Em conversa na tarde desta terça-feira com líderes, Temer pediu aos parlamentares que defendam não apenas o governo, mas o projeto que eles mesmo colocaram na Presidência, disse uma das fontes palacianas. O presidente interino queixou-se que o “barulho” feito pela oposição dava a impressão de que eles eram maiores e que a base governista precisa mostrar que é maioria.
Uma das queixas é que deputados e senadores oposicionistas ocupam a tribuna, especialmente nas segundas e sextas, quando o Congresso está vazio, para atacar o governo.
Com a intenção de ocupar esses espaços, Temer definiu nesta terça Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) como líder do governo no Senado. Ex-candidato à vice-presidência na chapa de Aécio Neves, em 2014, o senador é conhecido por ser um feroz orador contra o PT.
“Aloysio tem um perfil de enfrentamento. Agora terá algum contraponto, alguém para responder aos ataques da tribuna”, disse uma das fontes palacianas.
(Reportagem adicional de Eduardo Simões)