UOL Notícias: Aliados de Cunha mostram surpresa com afastamento, e opositores comemoram

A sensação de surpresa marcou a reação de muitos aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), após a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki de afastar Cunha do comando da Casa nesta quinta-feira (5).

O líder do Democratas na Câmara, o deputado federal Pauderney Avelino (AM), afirmou que a decisão “pode ser uma interferência” do STF na Câmara, se a decisão não passar pelo pleno do Tribunal. “Afastamento do mandato por liminar parece uma coisa nova”, afirmou.

Ainda assim, o deputado disse que vai se reunir com advogados e assessores para avaliar a decisão e, até lá, prefere não fazer um julgamento sobre o afastamento.

O líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), soube da notícia pela internet e também se mostrou surpreso. Segundo ele, ainda é cedo para fazer uma avaliação do afastamento. “O momento agora é de muita serenidade, para que não haja nenhum tipo de excesso, se preserve a Constituição e a normalidade institucional”, afirmou Rosso à Agência Câmara.

O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP), afirmou que Zavascki “criou um fato, porque o julgamento de hoje era outro. Não sei se o Supremo mantém isso, é uma interferência na Câmara, uma intervenção”, afirmou. O deputado é um dos mais próximos a Cunha.

Paulinho deixou na manhã desta quinta-feira a residência oficial da Câmara, onde estava reunido com Cunha, e não falou com a imprensa. O deputado Benjamin Maranhão (SD-PB) também estava reunido com o parlamentar e já deixou o local.

O Movimento Brasil Livre, um dos que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), postou em seu perfil no Facebook a frase “Tchau, Cunha!” mais uma foto do político em preto e branco. O post não condiz com a atitude recente do MBL, que via em Cunha um eventual aliado para tirar Dilma da presidência.

Em maio do ano passado, o grupo chegou a posar sorrindo para fotos ao lado de Eduardo Cunha, antes da votação das matérias relacionadas à reforma política. Em abril deste ano, Cunha chegou a ceder crachás de acesso às dependências da Câmara ao líder do grupo, Kim Kataguiri.

‘Tardou mas não falhou’

Enquanto a reação dos aliados de Cunha ainda é discreta, a oposição ao presidente da Câmara já festeja seu afastamento temporário.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que o STF “tardou mas não falhou”, e disse esperar que a Casa esteja livre da “figura nefasta” do peemedebista. “Eduardo Cunha é incompatível com a função parlamentar e com a direção da Casa”, declarou.

O deputado disse ver com naturalidade a decisão da Corte, que entendeu a “suprema gravidade” da situação da Câmara. Em sua avaliação, o STF demorou porque Teori é um ministro cauteloso. Agora, a expectativa é que o processo disciplinar no Conselho de Ética ande, uma vez que ao perder seu poder, Cunha também deve perder o apoio interno na Casa.

“Espero que os que apoiam o deputado Eduardo Cunha percebam que ele podia muito, mas não podia tudo. O limite é a lei”, disse o líder do Rede, Alessandro Molon (RJ). “Acho que ele começa a se enfraquecer”, disse.

“Eduardo Cunha é como o cabelo de Sansão. Estando na Presidência da Câmara ele tem poderes. Na hora que você corta esse poder, acredito que agora seja mais difícil para os deputados fiéis apoiarem ele”, disse o líder do PSOL, Ivan Valente (SP).

O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), afirmou que a medida já era esperada há muito tempo pelo País, que Cunha abusava do poder e usou a presidência para fazer pressão interna e externa. “Não há interferência do STF”, ponderou.

Já o líder do PT na Casa, Afonso Florence (BA), disse que a decisão está baseada “em provas robustas” e que isso poderá repercutir no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, que analisa uma representação contra o presidente afastado por quebra de decoro parlamentar, protocolada pelo PSOL.

Para Florence, a tramitação da representação poderá ser acelerada. “Ele não vai mais liderar esse processo tramitação da representação, e acredito que não haverá mais nenhum parlamentarque se disponha a cometer as mesmas ilegalidades. Tenho a impressão que a agora a investigação deve ocorrer com menos obstáculos”, afirmou.

O deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), também comentou a decisão do STF. “A justiça madrugou hoje. Sai numa hora que já passava do momento”, disse. Apesar de ser correligionário de Cunha, Vasconcelos já se pronunciou duramente contra o colega em diversas ocasiões, chamando-o de “ditador” e “psicopata”.

Prefeitos comentam

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), disse em entrevista à rádio “Jovem Pan” que respeita as decisões da Justiça. “Há um conjunto de denúncias contundentes em relação ao Cunha. Acho que faltou a ele maturidade. Acho que a partir de grau de flagelação que se tem, ele devia ter a iniciativa de ter se afastado da presidência há algum tempo”, diz.

Já o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse à “CBN” que se o ministro Teori Zavascki “reuniu indícios de que ele Cunha está atrapalhando as investigações sobre a sua conduta passada, a Justiça agiu corretamente. A sociedade não pode desejar isso. A Justiça não pode ser partidária. Há problemas em todos os partidos, há muitos problemas no PT, mas a oportunidade que estamos tendo é única”, comentou.

* Com Agência Estado e Felipe Amorim, de Brasília

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

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