COM LUÍS ARTUR NOGUEIRA E PAULA BEZERRA
O turco Temei Kotil, chairman e CEO da Turkish Airlines, tornou-se um dos mais respeitados executivos do setor da aviação em todo o mundo. Sob seu comando, a estatal fundada em 1933 superou graves dificuldades financeiras que se arrastavam desde as décadas de 1980 e 1990 para, atualmente, ser uma referência de qualidade e transparência na gestão. Não por acaso, a pesquisa Skytrax de 2015 elegeu a Turkish Airlines a “Melhor Companhia Aérea da Europa” pela quinta vez consecutiva. Kotil contou à DINHEIRO que enxerga grandes oportunidades nos céus brasileiros, apesar da profunda recessão que o País atravessa. Para ele, não existe futuro para companhias aéreas que não priorizarem a qualidade dos serviços aos passageiros. Saiba o que pensa Kotil e quais são seus planos para o Brasil e América Latina:
Como o sr. avalia o atual cenário do setor da aviação? Há como crescer?
Existem desafios e oportunidades. Os mercados maiores já estão bem atendidos por diversas companhias. Nas regiões em que ainda não temos uma presença muito forte, vamos ampliar. Temos um voo diário na rota São Paulo-lstambui, e queremos ter uma rota direta com o Rio de Janeiro. Teremos voos para o México, Havana, Bogotá e Panamá, além de algumas capitais na África.
Existe interesse em comprar participação em alguma companhia aérea brasileira?
Não temos interesse. Por que vou comprar parte de alguma empresa e compartilhar problemas e lucros se posso ter minha própria operação, com controle dos fatores envolvidos na operação, como custos e qualidade? Nossa filosofia é muito diferente da mentalidade de grande parte das empresas. Na Turkish, não transportamos pessoas. Cuidados de pessoas. E queremos aprimorar nossos serviços.
Mas aprimorar os serviços custa caro…
Oferecer um bom serviço não significa ter um custo maior. Atender bem não custa caro porque funcionários gentis, bem-humorados, com sorriso no rosto e sempre dispostos a ajuda não cobram mais. Não preciso cobrar a mais por uma mala extra, nem cobrar um absurdo para remarcar uma passagem. As companhias áreas não percebem, mas esse tipo de comportamento só gera frustração e espanta os clientes. Por isso, não enxergamos dificuldades em concorrer com outras companhias no mundo.
Por que há interesse pelo Brasil?
O Brasil ainda é protagonista na economia mundial. Não sei como o País irá superar as dificuldades, mas sei que isso acontecerá em breve. A origem da crise, sob o ponto de vista econômico, não faz sentido. Um país com 200 milhões de habitantes, território gigantesco e atividades econômicas tão variadas, não pode ficar em crise por muito tempo.
Dentro do plano de investimento, há negociações por aviões da Embraer?
Gosto muito dos aviões da Embraer. São ótimos. Estamos estudando algumas aquisições, mas nada decidido ainda.
Os ataques terroristas na Europa, na Turquia e no Oriente Médio afetaram, de alguma forma, suas operações?
Temos uma série de medidas adicionais de segurança. Por questões de segurança, suspendemos nossos voos para a Síria e áreas de conflito no Norte da África, na Somália e na Argélia. Em regiões que ainda atuamos, como na Rússia, onde temos dez voos diários estamos sempre monitorando a situação e evitando rotas que ofereceram algum perigo. Pelos céus da Ucrânia, por exemplo, não passamos mais.
COM A FORÇA DO VINHO
A recessão e a alta do dólar prejudicaram o setor de vinhos, correto? Se perguntar para o presidente da Wine.com, Rogério Salume, a resposta é: errado. A empresa, que já é o 32 maior e-commerce de vinhos do mundo, prevê um crescimento de 30% no faturamento deste ano em relação aos R$ 300 milhões de 2015. Com mais de 300 mil clientes ativos e mais de 7 milhões de garrafas entregues, a aposta se apoia em duas estratégias. o ClubeW, clube de vinhos com mais de 140 mil sócios, e na internacionalização, com a aquisição da Mocoffee, empresa suíça de máquina e café em cápsula. A companhia brasileira foi considerada a mais inovadora do país, na categoria varejo online, e a 6 a no ranking geral, segundo pesquisa da DOM Strategy Partners.
A BELEZA NA CRISE
Para driblar a crise no varejo brasileiro, a grife de lingeries Hope tem apostado em um modelo de expansão por meio de lojas compactas franqueadas. A idéia, até agora, está dando certo. Por se tratar de um investimento relativamente baixo, de R$ 180 mil por unidade, a empresa deve fechar 2016 com 40 novas unidades. Só no primeiro trimestre, foram 16.0 crescimento se justifica. O setor de moda feminina é, historicamente, o que menos sofre em períodos de crise.
Frase da Semana
“Pode servir (Rivotril). Eu receito, eu sou médica”
sugestão feita pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) ao presidente da comissão de impeachment, Rogério Rosso (PSD-DF), que serviu suco de maracujá para acalmar osparlamentares
DANÇA DAS CADEIRAS NA ACCIONA
A multinacional espanhola de infraestrutura Acciona, responsável pela construção do metrô de Fortaleza e do Rodoanel Norte, em São Paulo, está prestes a mudar seu corpo diretivo no Brasil. Circula nos corredores de seu escritório, em São Paulo, que o atual diretor-geral, o espanhol Daniel Cuartero, assumirá a divisão de construção. Em seu lugar entrará o brasileiro André Clark Juliano, que ocupava o cargo de vice-presidente executivo de negócios internacionais da Camargo Corrêa. Segundo fontes, a mudança visa dar mais dinâmica à empresa, que fatura âÂ,¬ 6,5 bilhões globalmente.
COMÉRCIO EM
BOM PORTUGUÊS
Em julho, o Brasil vai assumir a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Composto por nove nações (São Tomé e Príncipe. Cabo Verde, Timor Leste. Moçambique, Angola, Guiné Bissau. Guiné Equatorial, Portugal e Brasil), o grupo tem população de 260 milhões de pessoas e um PIB de quase US$ 3 trilhões. De olho nesses mercados, a União dos Exportadores da CPLP quer intensificar o comércio entre esses países, que movimenta US$13 bilhões por ano. “Queremos viabilizar o livre acesso de pessoas, produtos, serviços e capitais nos países lusófonos”, diz Gilberto Uma Jr. que trabalhou na Apex e está assumindo a entidade na América Latina.
“SE ESSE IMPEACHMENT NÃO SAIR E CONTINUAR TUDO DO JEITO QUE ESTÁ, ESTAMOS FERRADOS”
PRESIDENTE DO GRUPO GANDINI (KIA MOTORS E GEELY) E DA ASSOCIAÇÃO DOS IMPORTADORES, A ABEIFA O problema do país é econômico ou político? É político. Não temos uma definição do que vai acontecer no País. Precisamos ter uma regra clara. O que não pode é ficar do jeito que está. Saber quem é quem. quem manda, como vai ser. Do jeito que está. você fica em cima do muro, não sabe se investe ou não. Quem é que vai comprar um carro, nacional ou importado, se não sabe se vai estar empregado? O grande problema é político. Existe o problema econômico também. Havendo uma definição política, dá para vislumbrar melhor o econômico? Não tenha dúvida. Qualquer mudança forte no governo muda tudo. Qualquer mudança. Até se houver a permanência da Dilma é preciso mudar algo no governo. Se esse impeachment não sair e continuar tudo do jeito que está. estamos ferrados. A tributação precisa ser reavaliada? Sim. O automóvel importado chega no Brasil e paga 35% de imposto de importação, é para ele ser considerado nacional. Ele já pagou o pênalti dele. Então nós temos que pagar a mesma carga tributária dos carros nacionais. Não tem porque pagar 30 pontos a mais de IPI depois de ter pago 35% de imposto de importação. Se o sr. pudesse escolher entre o dólar a R$ 1,70 ou tirar os 30 pontos, o que escolheria? Tirar os 30 pontos. Sabe por quê? É igual para todo mundo. É por isso que eu falo em isonomia. O dólar é importante para as montadoras porque elas trazem componentes importados e é importante para nós. Se a regra for igual para todo mundo, acabou o problema. Agora, o importado tem que ter um pênalti. Então está bem: são os 35% de imposto de importação, que é o teto. No mundo inteiro é assim.