O Globo: Vítima de intolerância lança campanha

A menina Kayllane Campos, de 11 anos, que foi atingida por uma pedrada no último domingo ao sair de uma festa de candomblé na Vila da Penha, Zona Norte do Rio, decidiu levar a defesa da liberdade religiosa à internet e ao governo federal. Em um abaixo-assinado on-line publicado ontem por ela e sua família no site Change.org, a jovem pede que o ministro de Direitos Humanos, Pepe Vargas, organize uma campanha nacional sobre o tema. Também ontem, o arcebispo do Rio de Janeiro, o cardeal Dom Orani Tempesta, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, condenaram atos de intolerância religiosa no país.

“No Brasil, já temos uma lei muito importante contra a intolerância religiosa, que tem as mesmas medidas contra o racismo. Mas a grande maioria das pessoas não conhece. O país já teve muitas campanhas contra o racismo, contra a homofobia e contra a violência contra a mulher. Isso é ótimo! Chegou a hora de termos também uma campanha contra a intolerância religiosa”, escreveu a jovem na página da campanha.

— A ideia da campanha foi da própria Kayllane. Ela entrou em contato com a gente, decidida a realizar um abaixoassinado para alcançar um posicionamento da Secretaria de Direitos Humanos — conta Pedro Prata, diretor de comunicação do site Change. org. — O abaixo- assinado vai continuar no ar enquanto não tivermos sucesso na realização de uma campanha nacional.

Até o final da tarde de ontem, a campanha no site já reunia cerca de 3.100 assinaturas de apoio. Amanhã, candomblecistas e umbandistas farão uma passeata no Largo do Bicão, na Vila da Penha, a partir das 10h, para protestar contra a intolerância religiosa.

CAFÉ DA MANHÃ COM DOM ORANI

Ontem, a jovem candomblecista também foi recebida por Dom Orani Tempesta na sede da arquidiocese da cidade, na Glória, Zona Sul do Rio, para um café da manhã. Durante a reunião, a jovem conversou com os líderes religiosos sobre o episódio do qual foi vítima.

— Eu gosto da minha religião, e a escolha de fazer parte dela foi minha. Espero que todo mundo se una na busca Candomblecista por respeito — afirmou a menina.

Ao falar sobre a violência contra a jovem, Dom Orani disse que seus autores não podem ser considerados cristãos:

— Quando vemos que a nossa cidade começa a dar sinais de intolerância religiosa, de não mais aceitar o outro, isso nos causa uma grande preocupação — afirmou. — A postura cristã é de quem acredita que nós somos criados por Deus e cada um tem a sua dignidade. Somos pessoas humanas chamadas a viver respeitando-nos mutuamente, independente de etnia, religião e ideologia. Conclamo a sociedade para que veja que aqui, no Rio de Janeiro, a cultura sempre foi de entendimento, fraternidade e compreensão.

Em Brasília, ao comentar a agressão sofrida por Kayllane, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defendeu a penalização daqueles que praticam atos de violência contra quem exerce a sua crença religiosa. Cunha disse ainda que apoiará a proposta de criação de uma comissão para debater esse tipo de problema.

— O próprio líder Rogério Rosso (PSD-DF) apresentou projeto para poder condenar os que não respeitam símbolos religiosos. É um bom momento de você também coibir ou penalizar aqueles que praticam atos de violência contra quem faz sua crença religiosa, seja qualquer uma. Todos têm direito à sua crença religiosa, não compactuo com nenhum tipo de agressão, de nenhuma natureza, com quem pratica o exercício de seu credo religioso — afirmou Cunha.

No entanto, o deputado disse não acreditar que o país viva um momento de crescente intolerância religiosa:

— São episódios pontuais. Numa sociedade grande como a nossa, um caso acontecer não é uma onda.

TRINCADO NO TÚMULO DE CHICO XAVIER

Em Uberaba, no estado de Minas Gerais, um trincado e marcas de pancadas apareceram anteontem no vidro blindado que protege o túmulo de Chico Xavier, no cemitério São João Batista. Filho adotivo do médium, Eurípedes Higino disse ao site G1 que o episódio pode ter sido motivado por intolerância religiosa.

— Nessa altura, tanto pode ser atitude de drogados, como de intolerância religiosa. Eu pensava que o Chico era respeitado desde as periferias e por pessoas de todas as religiões — afirmou Higino, que pretende colocar grades no local para evitar vandalismo. (Colaborou Adriana Mendes)

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