O Globo: Processo de cassação pode voltar ao começo

ESCÂNDALOS EM SÉRIE

Cunha tem vitória parcial na CCJ, mas hoje não contaria com votos para anular decisão de Conselho de Ética

Isabel Braga, Letícia Fernandes, Renan Xavier (*) e Júnia Gama – opais@oglobo.com.br

-Brasília- O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conseguiu ontem uma vitória com a aceitação parcial, pelo relator Ronaldo Fonseca (PROS-DF), do recurso que questiona a cassação de seu mandato pelo Conselho de Ética, mas deverá encontrar dificuldades para aprová-lo na próxima semana na Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Fonseca acatou apenas um dos 16 pontos apresentados pela defesa, que implicaria, se aprovado, a anulação da votação do parecer que pede a cassação. Aliados de Cunha contabilizavam ontem 28 votos a seu favor, mas admitiam que a “fragilidade” do relatório poderá prejudicar ainda mais a situação do presidente afastado. Para aprovar o relatório, Cunha precisa de pelo menos 34 dos 66 integrantes com direito a voto. Os adversários calculam ter pelo menos 37 votos para derrubar o parecer.

Segundo Fonseca, além de não ter respaldo no regimento, a votação adotada no Conselho de Ética provocou o chamado “efeito manada” ou seja, acabou influenciando outros deputados e prejudicando o presidente afastado. Mas o seu relatório frustrou os aliados de Cunha.

– Acatar só esse argumento é atitude de quem ficou em cima do muro, muito ruim mesmo. Tem gente que não cumpre o combinado e esquece que o pau que dá em Chico dá em Francisco – afirmou um dos aliados de Cunha.

Além de criticar o relatório, aliados do peemedebista lamentavam ontem a falta de solidariedade de antigos apoiadores. Citaram, por exemplo, a decisão do presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-PR), de ceder à pressão e antecipar a discussão para a próxima segunda-feira.

– Ele (Cunha) ajudou tanta gente, e agora estão prejudicando ele. Eu não sou companheiro eventual, fico com ele até o final. O mais grave, no entanto, é o abandono do governo, do próprio partido – reclamou outro aliado próximo.

“É UM CENÁRIO RUIM”, DIZ ADVOGADO

O advogado de Cunha, Marcelo Nobre, admitiu ontem que a situação de seu cliente ficou mais difícil diante de um parecer “decepcionante” O l advogado defendeu que o peemedebista vá à I Câmara fazer uma defesa política:

– É um cenário ruim para meu cliente.

Cunha, no entanto, disse ontem ao GLOBO, por mensagem, que não considera “frágil” o ponto acatado por Fonseca, embora acrescente que o relator “se equivocou” ao não considerar os demais pontos da defesa, como o impedimento do relator Marcos Rogério. Cunha afirmou que espera ganhar na CCJ e que comparecerá à sessão que for votar o recurso, usando o tempo que lhe for concedido para a defesa.

Sem os votos na CCJ de partidos da antiga e da nova oposição, o peemedebista também poderá perder votos no PMDB e em partidos do centrão. Ontem, deputados do PMDB, doPSD, do PRB e do PP declaravam voto contra o recurso. Há três semanas, Cunha conseguiu garantir mudanças na composição da CCJ, com a indicação de deputados dispostos a votar com ele. O caso mais flagrante de apoio veio do PR, que trocou titulares para indicar integrantes do Conselho de Ética que votaram a favor de Cunha.

Líderes como o do PSD, Rogério Rosso (DF), e do PRB, Márcio Marinho (BA), têm dito que não farão trocas. Cunha também não deve conseguir a substituição de integrantes de seu partido. Apesar de ter sondado deputados da comissão sobre como votariam no recurso, o líder do PMDB, Baleia Rossi (SP), garantiu que não fará trocas na CCJ, a não ser que alguém peça.

Adversários de Cunha criticaram a decisão de Fonseca, que alegou que o Conselho de Ética não poderia ter feito votação nominal, com chamada individual de cada integrante, e, sim, votação de todos de uma vez no painel eletrônico. Segundo o relator, houve o efeito manada porque Wladimir Costa (SD-PA), que tinha feito um discurso favorável a Cunha, ao ouvir o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA) pela cassação, mudou de posição. *

Wladimir Costa discordou da ideia de efeito manada e disse que os indícios contra o presidente afastado são muito fortes:

– Como foi um efeito manada? Nunca vi uma manada de uma pessoa só. Eu seria a Maria vai com as outras?

Ontem, o único deputado a defender Eduardo Cunha foi o aliado Carlos Marun (PMDB-MS).

– Seu relatório é corajoso, mesmo discordando em parte dele. Não gostei do relatório, não pediu a suspeição do presidente do conselho. Minha posição tem sido a mesma, a defesa do devido processo legal, porque é um direito do cidadão, da imprensa e de nós, os deputados enxovalhados do país – disse Marun. (* Estagiário sob supervisão de Maria Lima)

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