O Globo: Pela 5ª vez, Conselho de Ética adia decisão

Tropa de choque de Cunha consegue evitar abertura de processo por quebra de decoro; votação pode ser hoje

Isabel Braga

A tropa de choque do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) conseguiu adiar pela quinta vez no Conselho de Ética da Câmara a votação do parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) que pede a abertura das investigações contra ele. Nova sessão foi convocada para 13h30m de hoje, mas os próprios aliados do presidente da Câmara admitem, nos bastidores, a dificuldade de evitar que o processo por quebra de decoro avance. Os aliados do governo também podem agir e tirar votos de Cunha, pois entendem que a guerra foi declarada.

No fim da sessão de ontem, o presidente da Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), anunciou que, se o voto de Pinato for derrotado, só permitirá um parecer pelo arquivamento sumário da representação. Isso prejudicará a estratégia dos aliados de Cunha de tentar atrair votos da oposição para uma proposta de punição com a suspensão do mandato por até seis meses, o que daria discurso a eles junto à opinião pública.

FALTAM VOTOS PARA CUNHA

Um dos possíveis adeptos da pena alternativa a Cunha, o deputado Paulo Azi (DEM-BA), afirmou ao GLOBO que seu voto será pela abertura das investigações.

– Já anunciei e vou votar pela abertura das investigações. Não concordo com o arquivamento. Não tenho como apoiar o voto em separado do deputado Erivelton (Santana, do PSC da Bahia) – afirmou Azi.

Os aliados de Cunha acreditam ter certos 9 votos, mas, para evitar a abertura das investigações, seriam necessários pelo menos 11 votos. Se houver empate, o presidente do Conselho de Ética vota. E já anunciou que é favorável à abertura das investigações. Há, no entanto, a possibilidade de Cunha perder votos que seus aliados hoje consideram certos, já que a abertura é considerada inevitável.

– Ninguém vai se expor desnecessariamente – afirmou um dos deputados que está na lista dos aliados de Cunha.

A sessão foi marcada por protesto de um pequeno grupo de manifestantes que, com cartazes, criticava Cunha e acompanhava de dentro da sessão. Outro grupo, fora da sala, gritava “Fora Cunha”

Logo no início, o petista Zé Geraldo (PA) bateu boca com o deputado Paulinho Pereira da Silva (SD-SP), com acusações de lado a lado. Houve outros momentos de tensão.

Além de usar o tempo para falar e defender Cunha, os aliados lançaram mão de recursos regimentais, como pedir suspeição de Júlio Delgado (PSBMG) e adiar a votação ontem. Na tentativa de alongar a sessão, evocaram até injustiças cometidas contra Tiradentes e Joana D’Árc. Araújo deu a palavra a todos os inscritos e encerrou a discussão. O deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), tentou adiar a votação.

– Podem dizer que estamos aqui procrastinando, mas não fiz nenhuma ação que não fosse baseada no regimento defendeu-se Manoel Júnior.

– Já é a quinta sessão de votação da admissibilidade, não venham dizer que a chicana aqui não é para protelar. Por que não querem que a votação aconteça – disse Júlio Delgado.

“JUSTIÇA E NÃO JUSTIÇAMENTO”

A representação contra Cunha foi instaurada no dia 3 de novembro, e Pinato apresentou seu parecer no dia 16. A primeira sessão de votação foi convocada para o dia 19 de novembro, quando mais de 100 deputados deixaram o plenário, acusando o presidente de agir em benefício próprio e interferir na independência do Conselho de Ética.

O advogado de Cunha, Marcelo Nobre, negou que esteja tentando protelar o andamento do processo no Conselho de Ética e afirmou que não há por que ter pressa na votação:

– Você tem que fazer justiça e não justiçamento. (Colaborou Evandro Éboli)

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