Indicação pode aumentar insatisfação popular e fragilizar o governo, avaliam deputados
Isabel Braga e Letícia Fernandes
Apesar da euforia de petistas e deputados do PCdoB em comemorar a indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil do governo Dilma Rousseff, a decisão não agradou a todos os líderes aliados. Nos bastidores, os líderes avaliavam a medida como “última cartada” do governo Dilma Rousseff, que estaria nas “cordas” e teria que dar um sinal de saída da inércia. Entre os deputados da base, o sentimento ontem era de perplexidade e de mais perguntas do que posicionamento.
O líder do PR na Câmara, Maurício Quintella Lessa (AL), classificou como um erro a nomeação. Para Lessa, a decisão de Dilma e de Lula poderá aumentar ainda mais a insatisfação popular e isso se refletirá no Congresso Nacional. Apesar de criticar a decisão, o líder do PR afirma que o partido continua na base aliada.
– Foi um erro, não foi bom para ele, que responde a denúncias. A sinalização não é boa. É ruim porque parece que o governo não escuta o que as ruas dizem. Você pode ter dois cenário: incendiar ainda mais os ânimos, irritar a população, o que repercute aqui no Congresso, ou ele pode ser bem sucedido nessa missão da relação de diálogo com o Congresso. Acho que a consequência será mais a primeira – disse Quintella Lessa.
Após a divulgação de conversa entre a presidente Dilma e o ex-presidente Lula, vazada ontem após o juiz Sérgio Moro derrubar o sigilo do grampo do petista, o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), disse que o áudio desestabiliza a base de sustentação do governo.
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“BALANÇA TODOS OS BRASILEIROS”
Partido de DNA governista, o PSD possui 34 parlamentares na Câmara dos Deputados e deverá ganhar outros no troca-troca partidário. Junto com PP (41 deputados) e PR (com 43), considerados partidos do “centro” da base – e, portanto, de posição volátil – , são 118 parlamentares, com força fundamental para barrar ou levar adiante o processo de impeachment contra Dilma na Casa.
– Se o áudio for verdadeiro, é uma crise de gravidade jamais vista. No dia em que o rito do impeachment é definido pelo STF, novos fatos surgem que, se não forem tratados com responsabilidade, saem de um cenário de instabilidade política para uma instabilidade institucional. Se iniciar essa crise, não sei onde ela vai parar – disse Rosso. – Balança (a base), claro, é um fato gravíssimo se o áudio for mesmo real. Não balança só a base, balança todos os brasileiros.
Para Rosso, se Dilma nomeou Lula para um ministério apenas para ele ganhar foro privilegiado, o ato da presidente “fere princípios institucionais”:
– Se foi para tentar dar foro ao Lula, considero um fato muito grave e que pode ferir inclusive princípios institucionais.
Líder do PROS, o deputado Hugo Leal (RJ) elogiou o ex-presidente, mas classificou como “totalmente extemporânea” a indicação de Lula, que, segundo ele, não deve surtir efeito neste momento e pode fragilizar o governo, que colocará o petista na posição de “salvador da pátria”