Deputado Rogério Rosso está na Câmara e pretende ler metade da acusação no fim de semana
BRASÍLIA – Presidente da comissão que analisará o impeachment de Dilma Rousseff, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) está reunido na Câmara com técnicos de várias áreas e pretende ler, durante o fim de semana, ao menos metade das seis mil páginas da denúncia que pede o impedimento da presidente. Ele também pretende fechar um roteiro com um cronograma de atuação da comissão.
O deputado passou a manhã deste sábado debruçado sobre a peça ao lado de assessores legislativos especializados em orçamento, finanças, no regimento interno da Câmara e constitucionalistas, que prestam auxílio ao parlamentar. Até agora, Rosso contou que já leu 687 páginas e pretende chegar a mil ainda hoje O domingo será destinado a ler outras duas mil páginas, disse o deputado.
– Quero enriquecer o entendimento da denúncia. A gente tem que entender que é uma comissão formada em razão de uma denúncia de crime de responsabilidade, e me sinto na obrigação de me aprofundar nesse tema para conduzir os trabalhos – disse ao GLOBO o presidente da comissão.
NOTAS TAQUIGRÁFICAS IMPEACHMENT COLLOR
Rosso também já tem em mãos as notas taquigráficas do processo contra o ex-presidente e hoje senador Fernando Collor (Sem partido-AL), afastado em outubro de 1992. Ele quer ler todos esses registros e pretende se reunir diariamente com técnicos legislativos para se inteirar dos detalhes da denúncia.
O deputado, que se afastou do cargo de líder do PSD na Casa para evitar conflito de interesses – já que, como líder ele participa de reuniões com ministros do governo nas quais se discutem inclusive ofensivas para conter o impeachment – , afirmou que vai respeitar os prazos e que quer conduzir o processo com “precisão” e “transparência”:
– Os prazos existem e serão respeitados. A ideia é fazer o trabalho com a maior precisão possível, sempre com transparência para a sociedade – disse, comentando ainda as pressões que poderá sofrer tanto de governistas quanto da oposição. – É legítimo que as partes queiram saber o andamento, e eu estou e estarei aqui na Comissão recebendo todos os dias, inclusive domingo. Quem quiser falar com o presidente da comissão terá que vir à Câmara – afirmou, negando que tenha falado com qualquer integrante do governo desde que foi escolhido presidente da comissão.
ROSSO SE AFASTA DA LIDERANÇA
Enquanto o processo de impedimento contra a presidente Dilma Rousseff (PT) tramitar no Parlamento, as atribuições da liderança do PSD ficarão a cargo do vice-líder do PSD, deputado Paulo Magalhães (BA), um dos nomes da legenda que integram a Comissão de Impeachment.
Pela divisão das bancadas federais na Câmara, o PSD teve direito a indicar quatro titulares, sendo um deles o próprio Rosso. Paulo Magalhães é visto por parlamentares como um voto mais governista, contrário ao impeachment.
Em nota, o PSD afirmou neste sábado que o afastamento temporário do agora presidente da comissão acontece para que o parlamentar “preserve sua imparcialidade e foco absoluto nos trabalhos da comissão”.
O PSD é comandado pelo hoje ministro Gilberto Kassab (Cidades), aliado de Dilma. Na Câmara, no entanto, o partido está longe de representar o DNA governista do criador da legenda. A bancada está dividida entre os que se mantém pró-governo e aqueles que votam contra o Palácio do Planalto. O próprio Rosso é visto como uma “incógnita” por integrantes do governo.
Na última quinta-feira, a Câmara elegeu a comissão especial que julgará o impeachment e, com o apoio da oposição e de parte da base aliada, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) conseguiu emplacar como relator um de seus aliados mais próximos: o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). O acordo, firmado sem a presença do PT e do líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), garantiu também que Rosso fosse escolhido para presidir a comissão. O acordo incluiu o veto ao PT até mesmo nas vice-presidências da comissão, que contemplou o PSDB, o PSB e o PR.
Leticia Fernandes