Parlamentares do PP, PR e PMDB foram abordados por interlocutores do Planalto
BRASÍLIA – O governo está investindo em negociações com deputados da base que tendem a votar pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff para que não compareçam à sessão dacomissão do impeachment na próxima segunda-feira, quando será votado o relatório pela admissibilidade do processo. O movimento para vencer a batalha antes mesmo de chegar ao plenário da Câmara, porém, havia sido frustrado até a noite de quinta-feira. Até o momento, ao menos 30 dos 33 deputados necessários para aprovar o processo se declararam favoráveis ao impeachment.
Segundo relatos, deputados do PP, PR e PMDB foram abordados neste sentido. Um deles, o líder do PR, Maurício Quintella Lessa (AL), tendia a não comparecer à sessão. Na noite de quinta-feira, porém, ensaiava voltar atrás e votar na comissão. Apesar de pertencer a um partido governista e de estar sob pressão da cúpula do PR para que ajude a salvar Dilma Rousseff, Quintella tem relatado dificuldades em votar contra o impeachment devido às demandas de sua base eleitoral. No PR, há dois deputados indecisos e dois com votos contrários ao afastamento da presidente.
O deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), que tem perfil oposicionista dentro do PMDB, também foi procurado por emissários do governo para que se ausentasse da sessão. Quintão passou a integrar a comissão do impeachment depois que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vetou a participação de Altineu Cortês (PMDB-RJ) no colegiado. O acordo com o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), era para que, resolvido o impedimento imposto por Cunha, Quintão abrisse mão da vaga que, originalmente, seria de Altineu, que tem posição contrária ao impeachment. O deputado de Minas, no entanto, tem se negado a voltar atrás e pretende votar a favor do impeachment.
– Eu ocupei a vaga no plenário de última hora, não tinha interesse em participar da comissão, mas o processo se intensificou tanto que minha base política decidiu que seria prejudicial que eu, neste momento, saísse da comissão. Vou comparecer e vou votar a favor do impeachment – disse o deputado ao GLOBO.
No PMDB, há quatro deputados favoráveis ao impeachment, um contrário e três indecisos.
O PP, cujo presidente, senador Ciro Nogueira (PI), anunciou esta semana que o partido permanecerá na base governista, também é alvo de investidas. O ex-ministro Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder do partido na Câmara, tem mantido conversas com o Palácio do Planalto e relatou a aliados o trabalho do governo para tentar vencer na comissão. Até o momento, porém, os representantes do partido no colegiado devem comparecer à sessão. Segundo levantamento feito pelo GLOBO, três deles estão indecisos e dois são favoráveis ao impeachment.
Um deputado governista do PP afirmou que o governo está disposto a fazer de tudo para evitar o impeachment, inclusive influenciar a ausência daqueles “indecisos” que poderia engrossar os votos pró-afastamento. Ressalta que mesmo o parecer da comissão sendo indicativo, seria importante caso se conseguisse uma vitória.
– A comissão é um amistoso, o jogo de campeonato é no plenário. Mas, seria bom ganhar o amistoso porque geraria manchetes boas – afirmou o deputado do PP.
Um deputado petista garante que a maioria aparente da oposição não garante vitória. Ele ressalta que o governo ainda tem tempo até segunda-feira para conseguir votos que poderiam levar à maioria. Para outro parlamentar da base, o governo ainda trabalha com cenários nos quais poderia vencer por um ou dois votos.
No balanço de quinta-feira, o governo conquistou na comissão um voto após a divulgação do relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO): o do deputado Júnior Marreca (MA), líder do PEN, que é titular na comissão do impeachment. Mas, perdeu o voto de Paulo Maluf (PP-SP), que irritado com a ação de Ciro Nogueira, anunciou, na noite de quarta-feira, que votará a favor do impeachment.
REGRA DO SUPLENTE E COMO SERÁ O AMANHÃ
A tentativa de conseguir virar votos com ausências depende ainda de outros fatores. A regra em vigor nas comissões é de que a suplência é de blocos partidários e por ordem de chegada dos suplentes. Desta forma, um deputado do PR que falte à sessão pode ser substituído tanto por um petista quanto, por exemplo, pelo deputado Evandro Roman (PSD-PR), que já declarou voto a favor do impeachment.
Um projeto de resolução para vincular a vaga ao suplente do partido está em tramitação na Casa, mas ainda não foi aprovado. Técnicos da Câmara ressaltam que poderia haver uma questão de ordem sobre qual seria a regra para suplentes para o caso específico e que o presidente da comissão, Rogério Rosso (PSD-DF), poderia dar uma decisão determinando a suplência porpartido. Nesse caso, a decisão precisaria ser respaldada posteriormente pelo presidente da Casa ou até pelo plenário.
(Colaborou Isabel Braga)
Júnia Gama e Eduardo Bresciani