Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – O Palácio do Planalto decidiu insuflar a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara, apoiada por parte da base governista, para tentar evitar que o peemedebista Marcelo Castro (PI), ex-ministro da Saúde do governo de Dilma Rousseff, chegue ao segundo turno, informou à Reuters uma fonte palaciana.
A candidatura de Castro, mesmo sendo peemedebista, está sendo tratada como de oposição pelo Planalto. Fiel a Dilma Rousseff até o final, Castro terá apoio de boa parte da bancada do PT e também do PDT. O ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner trabalhou pessoalmente pela candidatura do peemedebista, contou uma fonte próxima ao partido.
O Planalto teme sobre as chances de Castro ir ao segundo turno e terminar derrubando Rogério Rosso (PSD-DF), o candidato apresentado pelo centrão, formado por mais de 10partidos, incluindo PTB, PRB, Pros e PP. Por isso, a decisão de trabalhar por Rodrigo Maia.
“Para o governo tanto faz Maia ou Rosso, os dois são da base. Mas o Castro virou meio uma candidatura de oposição”, disse a fonte palaciana. “O presidente (interino MIchel Temer) não está se metendo, mas o entorno dele está sim trabalhando para levar Maia e Rosso para o segundo turno.”
Apesar de tentar manter a fachada de que ele próprio não está interferindo na disputa, na noite de terça-feira, Temer foi pessoalmente ao jantar de aniversário do ministro da Educação, Mendonça Filho, que reuniu boa parte das lideranças do PSDB e do DEM em um restaurante de Brasília.
Temer ficou cerca de meia hora no local, e se reuniu reservadamente com os presidentes do PSDB, Aécio Neves (MG), e do DEM, Agripino Maia (RN), para sondar se a chamada antiga oposição -além dos dois partidos, o PPS- estava realmente fechada pela candidatura de Maia, apoio que já foi formalmente declarado.
Castro anunciou sua candidatura no início da tarde de terça-feira, à revelia do Planalto. De 65 votos da bancada, Castro teve 28, e o líder do partido, Baleia Rossi (SP), não conseguiu evitar sua candidatura.
A decisão, no entanto, irritou profundamente os auxiliares mais próximos de Temer, a ponto de um deles ter afirmado que Castro estava “querendo sair do partido“. Oficialmente, no entanto, as declarações eram de que essa era uma mostra de que o Planalto não influencia na disputa, como disse o próprio presidente interino.
Há 17 candidatos registrados para a votação marcada para a tarde desta quarta-feira. O eleito irá comandar a Câmara até fevereiro de 2017, quando terminaria a presidência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou ao cargo na semana passada em meio a uma série de denúncias, um processo de cassação e tendo seu mandato de deputado suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O novo presidente terá papel-chave na tramitação das medidas econômicas propostas pelo governo Temer, especialmente a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos.