A BATALHA DO IMPEACHMENT
Sessão tensa demorou quase onze horas; relator diz se achar herói
Eduardo Bresciani e Evandro Eboli
O resultado de ontem da tensa sessão da comissão do impeachment – 38 votos a 27 a favor do parecer do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) pela admissibilidade do processo contra a presidente Dilma Rousseff – foi considerado ruim pelo próprio ministro-chefe de gabinete da Presidência, Jaques Wagner. Já a oposição comemorou o placar e o considerou um indicativo de que cresce o apoio ao afastamento da presidente, que precisa de 342 votos para ser aprovado em plenário.
Em entrevista, Wagner adotou o mesmo discurso dos governistas da comissão: de que o resultado é proporcionalmente suficiente para barrar o processo no plenário, embora tenha admitido queo resultado preocupa:
– O resultado está dentro das expectativas do governo, a nossa conta interna sempre foi entre 27 e 31,32 votos. Evidentemente, a gente gostaria de ter chegado aos 32 votos. Mas os 27 era dentro da nossa conta, até porque eles representam 41,5% da comissão, que, projetado para o plenário, nos dariam 213 votos, que é número que eu tenho falado. Os que pregam esse golpe dissimulado podem comemorar o número, mas eles têm consciência de que esse número não dá a eles o resultado que eles gostariam- disse Wagner.
Já o coordenador do comitê pró-impeachment, deputado Mendoça Filho (DEM-PE), vibrou com o placar:
– É uma vitória consistente e com uma margem além das nossas expectativas. Isso fortalece para o plenário e dá combustível para crer que a vitória final será atingida com folga.
Atacado pelos aliados de Dilma como “golpista” e festejado pela oposição, o relator Jovair Arantes (PTB-GO) também festejou o resultado:
– Já saio como herói. Fiz um trabalho de herói. Golpista é ir contra a vontade popular. É querer se perpetuar no poder – disse Jovair.
A derrota ocorreu em uma comissão montada sob critérios que o próprio governo defendeu. Em dezembro, parlamentares da oposição tinham conseguido emplacar em votação no plenário uma chapa avulsa na qual 39 dos indicados já seriam pró-impeachment. O governo, por meio de seus aliados, questionou essa eleição no Supremo Tribunal Federal (STF) e ganhou. A corte decidiu que a formação da comissão seria pela indicação dos líderes.
Ao longo dos trabalhos do colegiado, porém, líderes que eram da base mudaram de lado. Além de Jovair, o presidente da comissão, Rogério Rosso (PSD-DF) votou contra o governo e Maurício Quintella (AL)P renunciou à liderança do PR ontem para não ter que votar com o Planalto. Dos partidos mais “voláteis” da base restou o voto do líder Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), mas ele próprio registrou que a sua posição não é a da bancada.
A sessão de ontem demorou dez horas e meia; a polêmica começou desde cedo, quando os suplentes disputaram a possibilidade de votar. Laudívio Carvalho (SD-MG) chegou às 6h40m e conseguiu votar por ter registrado presença, quando o painel foi aberto um segundo antes de um colega de bloco. Ele substituiu Washington Reis (PMDB-RJ), internado no Rio com suspeita de gripe H1N1.
Mas nem todas as ausências foram pelo mesmo motivo. O deputado Bebeto (PSB-BA) faltou porque seu partido queria que ele votasse a favor. Em seu lugar, votou o tucano Bruno Araújo (PSDB-PE). O deputado Julio Cesar (PSD-PI), assim como Maurício Quintella, também não compareceu nem justificou a ausência. Os dois foram substituído por deputados governistas do PT e do PCdoB.
Os ânimos ficaram acirrados ao longo de todo o dia. Na reta final, deputados tomaram a frente do painel com gritos de guerra dos dois lados. Os favoráveis ao impeachment misturaram gritos de “Fora Dilma” e “Fora PT” à canção “Está chegando a hora”, enquanto os contrários bradavam “Não vai ter golpe” e “Fora Cunha” Logo que foi conhecido o resultado, deputados da oposição comemoravam e gritavam: “Olê, olê, vamos pra rua pra derrubar o PT”. E “Fora PT”. E também mostravam bandeira do Brasil e cantaram o Hino Nacional.
PETISTA ATACA RELATOR
As ironias estiveram presentes todo o tempo. Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) exibia um cartaz com a inscrição “Tchau, querida!” se referindo a Dilma. Weliton Prado, do Partido da Mulher Brasileira (PMB), ao encaminhar o voto a favor do impeachment ouviu de uma parlamentar petista:
– Cadê a mulher desse partido?
Durante a discussão, uma revelação do líder do PTN, Aluisio Mendes (MA), alimentou a galhofa. Mendes, contrário ao impeachment, disse que tem sofrido muita pressão por sua posição em sua própria da casa, e de sua própria esposa. Os pró-impeachment aplaudiram o posicionamento da esposa do parlamentar.
– Minha família está dividida. Inclusive familiares que eu convivo há 50 anos. Minha esposa tem posição diferente da minha – disse Aluisio Mendes.
Paulo Teixeria (PT-SP) chamou o relator, Jovair Arantes de Jovair Cunha, acusando-o de ter feito seu relatório em parceria com o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Antes de os parlamentares começaram a falar, Jovair defendeu seu relatório atacando o governo e conclamando os colegas a não terem “medo” de acompanhá-lo.
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“Já saio como herói. Fiz um trabalho de herói. Golpista é ir contra a vontade popular. É querer se perpetuar no poder” Jovair Arantes (PTB-GO) Relator da comissão do impeachment na Câmara
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“Minha família está dividida. Inclusive familiares (com) que eu convivo há 50 anos. Minha esposa tem posição diferente da minha” Aluisio Mendes (MA) Líder do PTN na Câmara