Evandro Éboli, Isabel Braga e Júnia Gama
Depois do sexto adiamento seguido da votação de continuidade do processo contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética, o comando do órgão chegou à conclusão de que somente o afastamento temporário do peemedebista da presidência da Câmara permitirá o avanço da ação. Um projeto neste sentido, de autoria do presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), e dos dois vice-presidentes, será apresentado hoje na sessão do colegiado. Se aprovado, será submetido ao plenário da Câmara.
O presidente do conselho afirmou que, se preciso, vai até o Papa para tentar afastar Cunha.
– Está difícil trabalhar nessa casa. Se precisar, vamos recorrer ao Supremo para mostrar isso. Se precisar, vou recorrer ao Papa – disse Araújo.
“TEATRO DO ABSURDO”
Medida semelhante foi tomada ontem por oito deputados do PSOL e da Rede, que protocolaram, na Procuradoria Geral da República, pedido de afastamento de Cunha enquanto durar seu processo no conselho. O pedido, com 30 páginas, elenca uma série de atos de Cunha que caracterizariam uso da função para se proteger da acusação de quebra de decoro. Esses deputados esperam que o procurador-geral, Rodrigo Janot, aceite o pedido e o encaminhe para decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Chico Alencar disse que as manobras e decisões tomadas recentemente mostram que apenas a saída de Cunha da presidência permitiria a isenção do processo na Casa.
– É um absolutista, que atua de forma imperial, monárquica e autoritária. Sua presença na presidência da Câmara tornou-se absolutamente inadequado, para falar o mínimo. É escândalo sobre escândalo. Virou um teatro do absurdo – afirmou Alencar, completando mais tarde:
– A representação aqui não vai prosperar, está decidido. São manobras, chicanas. A Câmara está um pântano total, é só lama. A solução terá que vir de fora, por isso recorremos novamente à Procuradoria-Geral da República medindo o afastamento de Cunha da residência da Câmara.
A deputada Eliziane Gama (Rede-MA) afirmou que seu partido irá fazer hoje um aditamento, com os fatos ocoridos ontem no Conselho de Ética, quando a tropa de choque de Cunha mais uma vez atuou para a votação não correr. Nesse relato, estará incluído o
afastamento do relator, Fausto Pinato (PRB-SP), do caso. Uma decisão monocrática do vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), atendendo a um pedido de um aliado de Cunha, tirou Pinato da relatoria.
Araújo desconfia que a decisão contra Pinato tenha sofrido influência externa.
– Acho que o vice não tomaria essa medida sozinho – disse o presidente do conselho.
Questionado se referia-se a uma intervenção de Cunha, respondeu:
– O que você acha?
O projeto pelo afastamento de Cunha será apresentado hoje no conselho por Araújo e pelos vices Fausto Pinato e Sandro Alex (PPS-PR), que criticou as intervenções de Cunha:
– Chegamos ao fundo do poço. Não conseguimos votar sequer um pedido de admissibilidade. Se não fizermos algo, não vai andar nunca.
Representantes do PSDB no conselho também criticaram Cunha. Betinho Gomes (PSDB-PE) afirmou que o presidente estava orientando os aliados:
– O Eduardo Cunha fica acompanhando pela TV e toma suas decisões dando ordens a seus aliados aqui no conselho.
Presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) também criticou as manobras.
– Acredito que não é razoável que esse processo não tenha tido até aqui o encaminhamento natural, onde cada partido, cada força política expressasse o seu sentimento. Não é positivo para o Parlamento a postergação indefinida de um processo de tanta repercussão na sociedade brasileira – disse Aécio.
Eduardo Cunha acusou o presidente do conselho de seguir um “regimento próprio” e de promover manobras que descumprem as regras da Câmara. O presidente da Câmara rebateu Araújo, que, mais cedo, classificara de golpe a decisão de afastar Pinato da relatoria.
– Golpe é o que estavam fazendo, descumprindo o regimento. A decisão é monocrátiça. O recurso chegou, me declarei impedido e o vice decidiu. Recurso contra decisão do presidente da Câmara é a CCJ. Esse é o regimento da Casa. Qualquer coisa diferente disso é que é golpe. Golpe é quebrar urnas e tentar agredir parlamentar para tentar impedir votação – afirmou.
Cunha comparou sua situação com a da presidente Dilma Rousseff:
– Acho engraçado, as pessoas fazem discurso, gritam, dizem que querem cassar uma presidente eleita. Eu sou um deputado legitimamente eleito pelo voto popular. Também estão querendo me cassar desrespeitando o regimento.