BRASÍLIA – O juiz Sérgio Moro enviou, por e-mail, despacho ao Conselho de Ética da Câmara, em que cancela o depoimento que o doleiro Alberto Youssef daria ao órgão, na tarde de amanhã, sobre o processo do deputado André Vargas (sem partido-PR). No despacho, o juiz justifica a decisão: “economia processual”.
Único a ser ouvido, até o momento, no processo de quebra de decoro parlamentar contra André Vargas, o petista Cândido Vaccarezza (SP) saiu em defesa do amigo e disse “ter convicção” de que ele fez lobby em favor do contrato entre o laboratório Labogen e o Ministério da Saúde. Vaccarezza, que é amigo pessoal de Vargas, disse conhecer o doleiro Alberto Youssef, mas como empresário e que não sabia que ele era doleiro. Também negou ter havido, em seu apartamento, uma reunião entre ele, Vargas e Youssef.
Youssef foi preso na Operação Lava Jato da Polícia Federal, sob suspeita de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que teria tido a participação do laboratório Labogen. Vargas está sendo processado no Conselho de Ética suspeito de ter ajudado Youssef a fazer contrato, via Labogen, com o Ministério da saúde. A Polícia Federal flagrou troca de mensagens entre Vargas e Youssef sobre o contrato da Labogen e também sobre suposta reunião que teria ocorrido no apartamento funcional de Vaccarezza.
Vaccarezza foi ouvido como testemunha no conselho na sessão desta terça-feira e disse que ainda que nunca tratou do contrato da Labogen com Vargas ou com o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Para Vaccarezza, Vargas é “réu confesso” no uso de jatinho emprestado por Youssef para viajar com a família, mas não acredito que ele tenha feito lobby em favor do Labogen.
– André cometeu um ato gravíssimo que foi usar o avião emprestado. Acho que é erro, não tratou de forma adequada,. Em relação às demais questões, tenho convicção, pelos fatos aparecidos, que o André não fez lobby para o Labogen. Se tivesse feito, não contaria com a minha defesa. Se tem discussão de decoro a debater, é a do avião. Nunca tratei desse assunto (Labogen) com Padilha, com Vargas, dai minha convicção sobre André. Somos vizinhos, tomamos vinho, apoiei ele para ser vice-presidente da Câmara. Se ele tivesse coisa tão importante (o negócio do Labogem com o Ministério da Saúde), “que vai resolver a vida…” o cara nem tocou nesse assunto comigo – disse Vaccarezza, criticando o que considera confusão entre os suspostos crimes atribuídos a Youssef e aos donos do Labogen e os crimes cometidos por Vargas
Durante quase três horas, o relator do processo, Júlio Delgado e outros conselheiros ouviram Vaccarezza sobre o caso. A defesa de Vargas pediu que a audiência com Vaccarezza fosse adiada por três, quatro dias, para que eles pudessem ler os autos do processo contra o deputado enviados ontem ao Conselho de Ética pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Também pediram o adiamento dos depoimentos dos donos do Labogen, marcados para a manhã de manhã.
O presidente do Conselho, Ricardo Izar (PSD-SP) e os demais conselheiros presentes não aceitaram o pedido da defesa, alegando que os fatos já estão no processo no conselho e que, se necessário, poderiam chamar novamente Vaccarezza para ouví-lo em outro momento. Inconformados, os advogados alegaram que não poderiam fazer perguntas ao petista.
Depois da audiência, Vaccarezza disse não ser “advogado de defesa” de André Vargas, mas que acredita na palavra dele. E que quem tem que provar se ele errou é quem o acusa:
– O Conselho de Ética tem que fazer investigação da ética e não debate político.
O relator Júlio Delgado disse que o depoimento de Vaccarezza poderá ser usado para confrontar informações contidas no auto do processo remetido pelo STF ao conselho.
– Vamos contrapor a fala dele, ver o disse me disse. Ficou claro que ele tentou protegê-lo. A defesa diz que não teve acesso aos autos, mas o Vargas, como deputados e acusado, teve acesso aos documentos. A defesa não está sendo cerceada. Por isso, fica claro que quem quer cercear é a defesa – disse o relator.