O Globo: Disputa é voto a voto

A batalha do impeachment

Oposição precisa conquistar três indecisos para obter maioria, aponta levantamento do GLOBO Isabel Braga, Maria Leticia Fernandes e Evandro Éboli

A poucos dias da votação da denúncia contra a presidente Dilma Rousseff na comissão do impeachment, na Câmara, a oposição já reúne 30 votos a favor do afastamento da petista. São necessários 33 votos para se obter a maioria nessa comissão, que tem 65 integrantes. O GLOBO ouviu todos os titulares do colegiado, entre segunda-feira e ontem. Dos parlamentaresconsultados, além dos 30 pró-impeachment, 18 se manifestaram contra o impeachment e 17 se disseram indecisos. Neste último grupo estão o presidente da comissão, Rogério Rosso (PSD-DF), e o relator, Jovair Arantes (PTB-GO). Embora os dois tenham se declarado indecisos, parlamentares do governo e da oposição dão como certo seus votos pelo impeachment. O cenário, porém, é imprevisível, já que ainda faltam orientações partidárias, e posições vêm sendo alteradas com a atuação do governo sobre algumas legendas.

Os deputados que declaram seus votos – a favor ou contra – informaram que estão convictos. Ou seja, não mudariam de lado. Entre os indecisos, alguns parlamentares citaram a defesa de Dilma feita pelo ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, anteontem na comissão, como importante e demonstraram ,uma tendência de votar contra o impeachment.

– A defesa de Cardozo deu a quem estava indeciso os elementos para tomar uma decisão e fazer a defesa de sua posição nas bases. Criou o ambiente. Disse que impeachment só em situações extremas. Qual a extrema gravidade das pedaladas, que dano terrível trouxe para a área social, para o cidadão? Foi só um ato jurídico não observado – disse Valtenir Pereira (PMDB-MT), um dos parlamentares indecisos.

Os que já se decidiram asseguram que não vão mudar mais seu voto. E boa parte deles divulga suas opiniões diariamente, seja na comissão ou em discursos no plenário da Câmara.

– Estou absolutamente convencido. O Cardozo (o ministro) está no papel dele, fez uma defesa apaixonada, mas não mudou um milímetro minha convicção sobre o impeachment. Sou a favor, claro – disse o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), externando a posição dos integrantes dos partidos de oposição na comissão.

DEPUTADOS CONTRARIAM PARTIDOS

Do lado governista, a convicção é a mesma.

– A chance de eu mudar de opinião e votar a favor do impeachment é a mesma de eu me casar com a filha de Barack Obama. Sou dilmista por convicção e as minhas convicções são sólidas, não são perenes. Podem me chamar de tudo, menos de traidor – afirmou o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), vice líder do governo.

Fora do chamado núcleo duro do governo e da oposição, parlamentares de partidos com menor representação na Casa, como o PSOL e o PV, estão igualmente polarizados. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) defende a rejeição do pedido de impeachment, sob o argumento de que não está caracterizada a prática do crime de responsabilidade no pedido dos juristas Miguel Reale Júnior, Janaina Paschoal e Hélio Bicudo.

– Acho que já formei meu juízo nesse pedido de impeachment. Não há fundamentação jurídica. O que há é uma disputa pelo poder – avaliou Chico.

– Não mudo minha convicção. Já há os elementos político e jurídico para afastar a presidente Dilma. Temos que dispensar logo esse governo para começar outro de forma decente – defendeu o deputado Evair de Melo (PV-ES).

Alguns partidos ainda irão orientar como seus filiados devem se posicionar. Mas já há parlamentar se antecipando. Escolhido ontem para ocupar uma vaga em aberto de seu partido na comissão, Vicentinho Júnior (PR-TO) anunciou seu voto e disse que não muda:

– Sou contra o impeachment. E se o partido decidir o contrário, eu não vou seguir. Não vou desembarcar do governo no meio da tempestade. Vou pedir desculpas ao meu partido.

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, confirmou seu voto contra o impeachment, apesar da pressão de seu partido e as declarações de seu pai, o presidente do partido no Rio, Jorge Picciani, pelo afastamento de Dilma.

– Voto contra este processo que está em análise. Difícil (mudar de opinião) em relação a esse processo – afirmou Picciani.

Outro líder partidário, Aguinaldo Ribeiro (PB), do PP, tentará convencer sua bancada a votar contra o impeachment. Ele foi ministro das Cidades do atual governo.

– Sou contra o impeachment, mas como líder vou encaminhar de acordo com a posição da minha bancada – afirmou Ribeiro, que terá dificuldade de convencer alguns correligionários, caso de Jerônimo Goergen (RS).

– Voto a favor do impeachment. Chance zero de mudar de opinião – disse Goergen.

PEDIDOS NEGADOS

Um dos mais ferrenhos opositores do governo na comissão, Júlio Lopes (PP-RJ) conta que ouviu pedidos de lideranças políticas para mudar de lado, mas não recuou:

– Voto a favor do impeachment, nenhuma chance de mudar. O Lula ligou para o Pezão e pediu. O Pezão e o Dornelles (vice-governador do Rio) me pediram para votar contra. Em que pese a necessidade de apoio do governo federal, votarei a favor do impeachment até por entender que isso se refletirá em benefício do Rio porque o que sufoca a nação é a gestão Dilma.

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