REMÉDIO AMARGO
Parlamentares dizem que não há clima para aprovar aumento de impostos
– Brasília – Em entrevista ao “Valor Econômico” a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que cumprirá a meta de superávit primário para 2016, estimada em 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Para isso, ela pretende enviar propostas ao Congresso, com foco no corte de gastos e aumento de receitas. Na entrevista, a ser publicada hoje, Dilma defendeu o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que, disse, está “trabalhando horrores” pelo país.
Após a repercussão negativa da tentativa do governo de recriar a CPMF, Dilma adotou uma postura mais cautelosa na busca de soluções para cobrir o rombo de R$ 30,5 bilhões no orçamento do ano que vem. Ela tem dito a assessores que todas as propostas de novos impostos que dependem de aprovação do Congresso, como o aumento do Imposto de Renda, serão antes debatidas com os parlamentares.
Há no Congresso forte resistência em aprovar aumento de impostos. Em jantar anteontem, o PMDB decidiu não defender aumento de carga tributária. Ontem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que o governo está se auto-destruindo com sugestões de elevar o Imposto de Renda e recriar a CPMF:
– O governo está se auto-destruindo. É um Maquiavel ao contrário: faz mal aos poucos, o que é pior, sem concretizá-lo. Você ameaça o mal. Isso é de uma falta de inteligência inominável – disse.
Para Cunha, o governo precisa reduzir gastos.
– Sou contra qualquer aumento de impostos. Não há condições de achar que vamos passar esse sinal para a sociedade, enquanto o governo mantém uma máquina ineficiente a custo elevado.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), adotou o mesmo tom e disse que a prioridade precisa ser o corte de despesas, e não aumento de tributos. Essa, afirmou, foi a conclusão do encontro de peemedebistas na noite anterior:
– O PMDB não tem uma posição de defesa com relação à necessidade urgente da elevação da carga tributária e do aumento de imposto. Isso é uma coisa que mais adiante pode ser discutida, mas há uma preliminar que é o corte de despesa, a eficiência do gasto público e é isso que precisa, em primeiro lugar, ser colocado.
Líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) disse que as medidas pensadas pelo governo não avançarão:
– Na próxima semana, vamos lançar uma frente suprapartidária contra aumento de impostos. Não há o menor clima para aumento de impostos, e as notícias de hoje desqualificam ainda mais o governo – disse Caiado.
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que seu partido decidiu não propor aumento de impostos:
– O PMDB não vai propor e é difícil passar proposta nesse sentido no Congresso – disse.
Líder do PSD, Rogério Rosso (DF), que integra a base aliada, também criticou o aumento de impostos para enfrentar o déficit nas contas públicas:
– Hoje, o brasileiro já trabalha quatro meses para pagar imposto. Vai trabalhar seis? Aí fica difícil defender o governo. Com todo respeito ao ministro Levy, mas somos contra. O melhor para o déficit é cortar gastos – afirmou.