Investigação será compartilhada se processo de cassação for aberto, afirmam deputados
Evandro Éboli
O presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (PSD-BA), relatou ontem ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, atos do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que entende ser de obstrução aos trabalhos do Conselho. Araújo criticou também procedimentos do presidente da Câmara que caracterizam uso da instituição em sua defesa. E citou como exemplo o fato de a TV Câmara ter transmitido ao vivo ontem a entrevista em que Cunha se defendeu e atacou a presidente Dilma Rousseff.
Araújo foi ao encontro acompanhado dos dois vice-presidentes do conselho: Sandro Alex (PPS-PR) e Fausto Pinato (PRB-SP), relator do caso de Cunha. Segundo os parlamentares, Janot disse que tem acompanhado tudo que está ocorrendo na Câmara.
– Falamos sobre Eduardo Cunha, e o procurador nos disse que está acompanhando. E que, se tivermos qualquer outro relato para fazer, é para trazer a ele – disse Araújo, na saída do encontro na Procuradoria-Geral da República.
– Há um limite entre usar o regimento de forma legal e usar de forma espúria – completou Sandro Alex.
O deputado do PPS disse ainda que Janot confirmou que Cunha está ligado a quatro contas bancárias na Suíça e avisou que vai disponibilizar todos os documentos da investigação ao Conselho se a abertura do processo de cassação de Cunha for aprovada. A votação será na terça-feira.
Os deputados afirmaram que ouviram relatos de Janot sobre a prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS).
– O procurador contou que eles trabalharam 24 horas direto, num trabalho exausto. E falou que, para se pedir a prisão de um parlamentar, a documentação tem que ter muita robustez – disse Alex.
Na reunião do Conselho, Araújo manifestou preocupação com os ânimos acirrados na Casa após Cunha ter aberto o processo de impeachment contra Dilma Rousseff. Ele quer reforço na segurança na reunião de terça-feira, quando será votado o relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) a favor da continuidade do processo contra Cunha.
– Se a leitura de um simples relatório de admissibilidade está causando tudo isso, imagina a votação de um relatório final? – disse Araújo.
Sempre que perguntado, Cunha tem negado que interfira nos trabalhos do Conselho de Ética da Câmara.