O Globo: Câmara suspende mandato de Carlos Alberto Leréia por 90 dias

Dividido sobre os efeitos do caso Leréia sobre André Vargas (PT-PR), o PT liberou a bancada na votação

BRASÍLIA – Com 353 votos a favor, 26 contra e nenhuma abstenção, o plenário da Câmara suspendeu nesta quarta-feira o mandato do deputado Carlos Alberto Lereia (PSDB-GO) por 90 dias. A punição alternativa é inédita e segue o parecer feito em 2013 pelo Conselho de Ética da Casa quando investigações da Polícia Federal mostravam as relações entre o parlamentar e o bicheiro Carlos Cachoeira. Dos votos contrários, 25 são do PT e um do PROS.

A suspensão livra Lereia de perder o mandato como havia pedido a Mesa Diretora da Casa, em dezembro de 2012. Antes da votação, o parlamentar subiu na tribuna para se defender e assumiu que era amigo de Cachoeira:

— Jamais omiti e menti sobre essa relação. Em 2005, durante a CPI do mensalão fui perguntado se era amigo de Cachoeira e respondi que sim. Ainda acrescentei que ela poderia ter votado em mim, mas que jamais me doou nada. Já eramos amigos antes mesmo de eu ser deputado.

Lereia também defendeu Cachoeira e disse que as gravações das conversas com o contraventor foram ilegais:

— O senhor Carlos Cachoeira é um grande empresário de Goiás. Não é nenhuma pessoa do submundo. Foi um absurdo gravarem minhas conversas com ele sem autorização — argumentou.

Divido entre os efeitos do caso Leréia e André Vargas, o PT liberou a bancada na votação. Mais cedo, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, pediu que a bancada votasse pela cassação, para mostrar que não havia intenção de uma pena menor que pudesse ser usada com parâmetro para o caso do petista. Mas, mostrando o racha do partido em torno de André Vargas, não houve consenso.

— Temos na nossa bancada posições diferentes. Vamos liberar — disse o líder do partido, Vicentinho (PT-SP), ao encaminhar a votação.

O PMDB e o PSDB encaminharam pela aprovação da suspensão por 90 dias. Nos bastidores, os tucanos queriam evitar a votação da cassação de Leréia.

Em setembro do ano passado, o Conselho de Ética da Câmara aprovou por 13 votos a 3 o relatório do deputado Sérgio Brito (PSD-BA) que recomenda a suspensão por 90 dias do exercício do mandato de Leréia (PSDB-GO).

Leréia é acusado de receber dinheiro da organização criminosa de Cachoeira, de usar o cartão de crédito do contraventor e, também, de avisá-lo antecipadamente sobre operação policial contra os jogos ilegais.

O deputado já escapou de cassação de mandato. Em agosto, por 12 votos a 3, o parecer pela cassação do mandato de Carlos Leréia foi derrotado no Conselho de Ética. O deputado tucano contou com apoio de parlamentares do PT e da base aliada do governo.

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