BRASÍLIA — Os partidos que integram o governo Dilma Rousseff rejeitaram ontem a recriação da CPMF, como proposto pelo PT durante congresso da legenda, em Salvador, e avalizado pela presidente. A ideia não tem o apoio dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que atuarão para impedir que o tema avance no Congresso. Renan disse a aliados que não há clima para a criação de impostos, num momento de recessão econômica, inflação, e de retirada de direitos trabalhistas. Na mesma linha, Cunha foi enfático:
— Sou contra a criação de imposto novo e não vejo chance (dessa discussão) prosperar — afirmou ao GLOBO.
O PT vem sistematicamente tentando trazer a contribuição de volta, desde que ela foi extinta em 2007 pela oposição ao governo Lula para enfraquecer sua gestão. Esta semana, a ampliação da Cide (contribuição que hoje incide sobre os combustíveis) ao setor de serviços, colocou senadores aliados em conflito com o ministro Joaquim Levy (Fazenda). Em reunião na última quinta-feira, os senadores rejeitaram a ideia, argumentando que não há como discutir neste momento criação de novos impostos ou contribuições. Por terem debatido o tema recentemente, sem que se falasse também na CPMF, parlamentares da base aliada mostraram-se irritados com o governo.
— Não existe discussão sobre qualquer aumento ou criação de imposto. O ministro Arthur Chioro (Saúde) deve ter levantado essa possibilidade por conta própria. Isso é coisa dos petistas. Não acredito que seja uma opinião de todo o governo_ afirmou o líder do PR no Senado, Blairo Maggi (MT), que foi um dos maiores críticos à ampliação da Cide na reunião com Levy. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), também é contra a criação de qualquer imposto. No começo deste ano, quando um grupo de governadores petistas levantou a ideia, Eunício avisou que por sua bancada, a maior do Senado, o tema jamais prosperaria.
Os aliados na Câmara também rejeitam a ideia, fazendo coro com o presidente Eduardo Cunha e deixando no isolamento o PT, autor da ideia.
— A CPMF aumenta ainda mais a insegurança no ambiente de investimento brasileiro — reagiu o líder do PSD, Rogério Rosso (PSD-DF).
De acordo com ele, caso seja instaurado, mesmo voltado às transações de maior valor, o novo imposto vai impactar todo o sistema financeiro.
— Precisamos reagir, mas se a dose do remédio for maior, ao invés de curar, vamos matar de vez a economia do País — disse.
Para o deputado André Figueiredo (PDT-CE), existem setores que podem, e devem, ser melhor tributados, e utilizou os bancos como exemplo. Segundo o parlamentar, todo o partido é contrário à criação do imposto sobre movimentações financeiras. Figueiredo afirmou que a população já paga muitos impostos.
— Falam sobre a criação de um novo CPMF mas não fazem revisão das alíquotas para bancos e empresas com grandes fortunas — disse o pedetista.
Para o líder do PP na Câmara, deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), esse não é o caminho para sair da crise. De acordo com ele, a medida é favorável aos bancos, mas ruim para o setor produtivo e para a geração de emprego.
— O Brasil já tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. Não se justifica aumentar impostos por estar em um momento de recessão. Somos completamente contra, não só à criação do CPMF, mas também para que os juros não aumentem mais — declarou.
Já o líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes (GO), disse não ver problemas em discutir o tema:
— O canhão sempre vira para o lado mais pobre. Dessa vez, podemos discutir uma medida voltada para transações de maior valor. Não digo que o PTB é a favor, mas é bom que se discuta para entender como essa hipótese avança.