TROCA DE COMANDO
Temer cede a peemedebista, que, mesmo afastado pelo STF, emplaca líder do governo
Isabel Braga e Simone Iglesias
Mesmo afastado da presidência da Câmara e do mandato, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) mostrou ontem que mantém sua força política, emplacando o líder do governo de Michel Temer na Casa. O presidente interino escolheu o deputado André Moura (PSC-SE) após forte pressão dos 13 partidos do chamado centrão – grupo comandado por Cunha e formado por legendas que historicamente servem de base para todos os governos e que estavam com Dilma Rousseff até poucos meses atrás. A decisão de Temer deixou claro que seu governo dependerá de Cunha para aprovar as medidas impopulares de recuperação da economia que enviará à Câmara.
A escolha de André Moura incomodou três das principais legendas que se opunham ao PT – o DEM, o PPS e o PSB. Cunha também marcou pontos ao fazer valer a manobra de manter o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), como “rainha da Inglaterra” e garantir que a sessão de votação de ontem, a primeira após o afastamento de Dilma, fosse comandada pelo segundo vice-presidente Fernando Giacobo (PR-PR). Resultado: duas medidas provisórias que trancavam a pauta foram votadas.
Temer cedeu à pressão do centrão após os partidos fazerem uma lista de apoio ao nome de Moura e declararem que o grupo reunia 291 deputados, deixando claro o risco de o Planalto sofrer derrotas caso não o escolhesse. O deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP) chegou a a discutir a lista de apoio a Moura numa sala de reuniões no quarto andar do Palácio do Planalto. A avaliação no Congresso é que com a decisão, Cunha se fortaleceu, e Temer terá que negociar permanentemente com o centrão, liderado pelo presidente afastado. Criticada abertamente pelo DEM, a indicação de Moura é vista no PSDB como algo inevitável já que os votos do centrão são fundamentais para aprovar as medidas econômicas. O grupo tem quase 300 deputados e os aliados da antiga oposição, cerca de 120.
– Com isso ele constrói uma maioria que Dilma não tinha. Neste momento, comprar uma briga com o centrão não era a melhor alternativa – avaliou um tucano.
TUCANO ELOGIA ESCOLHA
Logo pela manhã, o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), reagiu à forma como foi anunciada a escolha – não pelo governo Temer, mas pelos líderes do centrão – e não poupou críticas ao escolhido, que responde a ações penais no Supremo, e ao próprio Cunha:
– Essa situação, se for pela pressão, vai ter consequências ruins no futuro para o próprio governo do presidente Temer. Entendemos que os processos que ele responde no Supremo virão à tona de alguma forma. Já disse isso antes e repito: a pressão quem fez foi o deputado Eduardo Cunha, via centrão.
O PSB também se incomodou.
– A prerrogativa é do governante, mas não aceitaremos ser atropelados por um rolo compressor. A constituição do centrão, com essa postura, mais atrapalha do que ajuda o governo – criticou o vice-líder do PSB, Danilo Forte (CE).
O presidente afastado da Câmara, no entanto, nega envolvimento com o caso:
– O deputado Pauderney Avelino não tem o direito de me usar falsamente para contestar escolhas do governo, nas quais não tive qualquer interferência. O deputado mente e quer levar no grito e na chantagem aquilo que não conseguiu politicamente.
Já o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), reconhece que há pontos negativos na indicação de Moura, por sua ligação forte com Cunha, mas que o positivo é que a escolha garantirá votos ao governo Temer na Câmara. Imbassahy, mesmo causando incomodo entre os aliados da antiga oposição, foi à tribuna ontem à noite saudar a escolha do novo líder.
– Temer tem longa experiência congressual, sabe fazer as avaliações. Quero cumprimentar aqui o líder André Moura, respeitar a decisão e manifestar a confiança do PSDB na condução da base. Existem situações sendo postas, que o tempo permitirá a ele esclarecer à população – disse Imbassahy.
Ainda na tarde de ontem, Moura procurou lideranças, entre eles o tucano, para explicar os processos a que responde no Supremo. Ontem pela manhã, ele fez questão de participar da reunião de líderes com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), apresentando-se como novo líder do governo. Moura contou que foi convidado, no fim da noite de terça-feira pelo próprio Temer. E que pretendia ainda ontem mostrar serviço, votando medidas provisórias que trancam a pauta da Casa. Na primeira coletiva na nova função, negou ainda que Cunha vá interferir na liderança do governo:
– O presidente Eduardo Cunha foi importante no processo de impeachment, teve a coragem de deflagrar naquele momento. Mas o presidente Eduardo Cunha não terá influência nenhuma na minha liderança do governo. Sou líder do governo Temer que vai reunificar o país.
Antes de trabalhar pelo nome de Moura para a liderança do governo, Cunha tentou emplacá-lo em um ministério. Na noite anterior a seu afastamento pelo STF, Cunha foi ao Jaburu pressionar pela indicação. Temer não cedeu e o clima entre eles azedou.
Temer já trabalhava estudava indicar Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a vaga de líder do governo, e o deputado, que também é próximo de Cunha, o procurou para conversar sobre isso. No entanto, o presidente afastado não havia conseguido emplacar seu mais fiel aliado no Ministério e começou a articular com os aliados do centrão sua indicação para a vaga de líder na Câmara.
Para fechar o acordo em torno de Moura, Cunha acertou que, em troca, apoiaria as candidaturas dos líderes Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF), dois outros expoentes do centrão, à presidência e vice-presidente da Câmara no próximo ano. Inicialmente, Moura também ambicionava este posto.
– Apoiamos o Moura agora, e Jovair e Rosso disputarão a presidência no ano que vem. Vão ver quem tem mais apoio para sair de presidente e o outro será vice – contou um dos deputados do centrão.
AMEAÇAS DE RETALIAÇÃO
A articulação com os demais partidos que integram o bloco foi sacramentada no dia 10 de maio, na liderança do PTB. Assim que bateram o martelo, os aliados mais próximos foram a Cunha anunciar o acordo.
A pressão sobre Temer, no entanto, se intensificou no início desta semana, quando o centrão informou a ministros do Planalto que tinha em mãos uma lista com o apoio de 13 partidos em favor da indicação de André Moura.
Ministros e auxiliares próximos de Temer queriam evitar a indicação de Moura pelo impacto negativo na opinião pública e pela proximidade com Cunha. Interlocutores reclamaram da pressão, mas justificaram que tudo o que o governo não quer neste momento é alimentar brigas com o Congresso.
O presidente interino acabou cedendo após ouvir de seus auxiliares mais próximos recado dos deputados do centrão, de que, se Moura não fosse indicado, o governo sofreria uma derrota na Câmara como forma de retaliação. O recado foi levado aos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) pelo deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP).
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“Essa situação vai ter consequências ruins no futuro para o próprio governo do presidente Temer. Entendemos que os processos que ele (Moura) responde no Supremo virão à tona. Disse e repito: a pressão quem fez foi o deputado Eduardo Cunha” Pauderney Avelino (AM) Líder do DEM na Câmara