O Estado de S. Paulo: PT vê condução errática, mas vai poupar presidente de críticas

Partido deve expressar apoio às medidas para reequilíbrio de contas, mas sem fazer defesa contundente

Vera Rosa

Mesmo dividido em relação ao pacote fiscal lançado pela presidente Dilma Rousseff, o PT expressará apoio às propostas, mas sem fazer uma defesa contundente de todos os pontos. A estratégia vem sendo planejada porque cresce na cúpula petista a percepção de que Dilma corre grande risco de ser afastada do cargo, caso a reação não seja rápida.

A Executiva Nacional do PT vai se reunir amanhã, em São Paulo, para avaliar a crise, mas o sentimento, hoje, é que o partido só sobrevive se Dilma concluir o mandato. Apesar da avaliação geral no PT de que o governo adotou uma condução errática, apresentando agora medidas que não resolvem o problema, dirigentes petistas argumentam que o partido não pode impor mais desgaste à presidente.

“Não estamos felando de uma ou outra medida, mas do conjunto das propostas”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, ao ser questionado se o PT apoiaria o congelamento do reajuste salarial dos servidores públicos.

Embora o PT tenha perdido militantes, os movimentos sociais e o funcionalismo ainda constituem a base do partido. “As pessoas precisam entender que o governo está cortando R$ 26 bilhões na própria carne e que a CPMF sugerida não atinge os pequenos. Não vamos entrar nesse jogo de conspiração”, afirmou o deputado.

Guimarães participou ontem de uma reunião entre Dilma e líderes da base aliada, marcada por momentos de tensão entre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o deputado Rogério Rosso (PSD-DF).

“Nós vamos apoiar 100% a presidente”, insistiu o petista.

Lula. O Palácio do Planalto sabe, porém, que enfrentará greve do funcionalismo e protestos em todas as correntes do PT, além de queixas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cada vez mais distante de Dilma. No diagnóstico de Lula,o governo escolheu o pior caminho para sair da crise. O ex-presidente não foi consultado antes de Dilma divulgar o pacote. Ficou magoado, mas, segundo informações obtidas pelo Estado, tentará segurar as críticas mais veementes, ao menos em público.

“A sensação que temos é que Dilma se rendeu às pressões”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ),numa referência aos ultimatos de empresários e banqueiros. “A preocupação é porque acreditamos que esse novo ajuste vai deprimir ainda mais a economia. Além disso, não resolverá o problema fiscal, se não mexer na política monetária, sem falar na consequência política de brigarmos com nossa base social.”

Para o senador Walter Pinheiro (PT-BA), o governo errou na dose do remédio amargo. Pinheiro vai votar contra a reedição da CPMF, com alíquota de 0,2% por quatro anos, proposta pela equipe econômica para cobrir o déficit da Previdência. “A solução não se apresenta com esse imposto”, insistiu Pinheiro. “O meu medo é que o remédio, em dose cavalar, acabe matando o doente.”

Oposição

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem não acreditar que Dilma Rousseff tenha força para aprovar a CPMF. Segundo ele, isso só poderá ocorrer se ela sair da crise política.

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