Isabela Bonfim
Julia Lindner
Daiene Cardoso / Brasília
Ainda em busca de uma identidade após 13 anos em defesa de iniciativas do governo, o PT já adianta que votará contra projetos que foram enviados pela presidente afastada Dilma Rousseff ao Congresso e que, agora, estão na lista de prioridades do presidente em exercício Michel Temer. Entre elas, a revisão da meta fiscal que aumenta o déficit nas contas públicas.
Na sexta-feira, a equipe econômica de Temer anunciou ter encontrado uma situação fiscal pior do que a esperada e projetou um novo déficit para 2016: R$ 170,5 bilhões, quase R$ 74 bilhões a mais que os R$ 96,6 bilhões calculados no governo Dilma.
Diante disso, os petistas ensaiam um confronto com o PMDB e o novo governo, sobretudo na Câmara. Amanhã, Temer vai pessoalmente ao Congresso fazer um apelo para a aprovação da nova meta fiscal antes do dia 30.
O líder do governo interino na Câmara, André Moura (PSC-SE), aplaude a iniciativa de Temer ir ao Congresso tratar de temas espinhosos.
“O Legislativo não será tratado como um apêndice do Planalto”, disse Moura. “A ideia de comparecer pessoalmente no Congresso enfatiza a urgência do momento econômico e tem como objetivo mostrar que o governo não pode perder tempo na aprovação de medidas para tirar o País da crise. Nós precisamos dar resposta e o Congresso tem de agir com rapidez, com respostas urgentes.”
A partir desta semana, Temer pretende se reunir às terças-feiras com os líderes partidários da base aliada. A proposta é que esses encontros sejam alternados entre Palácio do Planalto e a residência dos líderes. O primeiro encontro será na casa do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), no dia 24. Temer pretende ir aos encontros sempre que a agenda presidencial permitir.
Apesar desse aceno do novo governo, não haverá boa vontade por parte dos petistas. Mesmo propostas que chegaram a ser defendidas por Dilma – como a volta da CPMF e a prorrogação desvinculação das receitas da União (DRU)também serão bombardeadas pelos deputados do partido.
“Como nós estamos numa situação que não é de normalidade democrática, isso muda a relação. Houve um rompimento brutal de um relacionamento próprio na sociedade, os votos que ela teve foram desconsiderados, não dá mais para analisar as medidas de maneira linear”, disse o deputado Arlindo Chinaglia (PTSP), que já foi presidente da Câmara.
Visões da crise
“Como nós estamos numa situação que não é de normalidade democrática, isso muda a relação. Não dá mais para analisar as medidas de maneira linear”
Arlindo Chinaglia
DEPUTADO (PT-SP)
“A ideia de (Temer) ir ao Congresso enfatiza a urgência do momento”
André Moura (PSC-SE)
LÍDER DO GOVERNO NA CÂMARA