DECISÃO NA CÂMARA. Debandada
Partidos anunciam voto pelo afastamento de Dilma, mas não vão punir dissidentes; apesar da decisão, Kassab diz que fica no Ministério
Pedro Venceslau
Daniel Carvalho / Brasília
Após o PP anunciar na terça-feira o apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, ontem PTB e PSD deram sequência à debandada do governo e aderiram oficialmente ao pedido contra a petista. Embora ambos tenham dissidentes, ambos devem somar pelo menos 45 votos pelo afastamento de Dilma: 30 do PSD e 15 do PTB, segundo estimativas de lideranças das próprias siglas.
O partido criado pelo ministro das Cidades, Gilberto Kassab, tem 38 deputados. Apesar da ampla maioria favorável ao impeachment, o ex-prefeito de São Paulo informou, por meio de sua assessoria, que não deixará o cargo na Esplanada.
O governo acredita poder reverter a posição de parte dos deputados favoráveis ao afastamento e somar até 11 votos aliados no PSD. Um dos meios para isso, segundo um dos negociadores do Planalto no Congresso, é manter a oferta de passar ao partido de Kassab o Ministério do Turismo, abandonado pelo PMDB no mês passado.
O PSD havia liberado os deputados para votar como quisessem, mas a maioria da bancada cobrou uma posição definida da legenda. “Mudamos de liberado para favorável, mas respeitando a posição dos deputados divergentes”, disse o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), ao informar que os dissidentes não serão punidos.
Os parlamentares da legenda entenderam que era preciso uma posição clara do partido, principalmente em função das eleições municipais que ocorrem em outubro. O PSD foi formado a partir de uma dissidência do antigo PFL, hoje DEM, partido historicamente forte em redutos antipetistas.
Kassab, que é presidente licenciado do partido, participou de parte da reunião com os deputados pela manhã e em seguida foi ao Palácio do Planalto informar Dilma sobre o resultado. “O ministro Kassab deixou claro que a bancada é soberana. O ministro Kassab tem a característica de que sempre respeitou a posição da bancada”, afirmou Rosso.
Jefferson. No PTB, que soma 19 deputados, anunciou a posição pró-impeachment ontem, mas vai tomá-la oficial hoje, na mesma reunião da Executiva do partido que reconduzirá o ex-deputado Roberto Jefferson, condenado no mensalão que teve a pena perdoada no dia 22, à presidência da legenda.
A decisão da bancada petebista foi anunciada pelo líder interino do partido, Wilson Santiago Filho (PB). Ele substitui Jovair Arantes (GO), licenciado desde que assumiu a relatoria do pedido de impeachment na Comissão Especial da Câmara.
Santiago Filho afirmou que o afastamento da presidente conta com apoio de 15 dos 19 parlamentares do partido. A deputada Cristiane Brasil (RJ), que é filha de Roberto Jefferson e atual presidente do PTB, afirmou que os dissidentes não serão punidos.
A deputada relatou que teve dois encontros recentemente com o vice Michel Temer, um deles na companhia do pai. Na conversa, teriam falado sobre temas como uma minirreforma constitucional, reforma tributária, reforma da Previdência e sobre o que chamou de invasão de competência de um Poder sobre o outro.
Os petebistas também disseram a Temer que rechaçam a proposta de recriação da CPMF e que uma possível participação de um ministério em seu governo será tratada em um outro momento. “Não falamos sobre cargos”, disse Cristiane.
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Sem pressão “O ministro Kassab tem a característica de que sempre respeitou a posição da bancada” Rogério Rosso (DF)
LÍDER DO PSD NA CÂMARA