Bloco ameaçou obstruir reforma da Previdência
Líderes do grupo partidário viram favorecimento de Maia na articulação do governo com o PSDB
Igor Gadelha / Brasília
Líderes do Centrão – bloco informal de 13 partidos da base aliada liderado por PP, PSD e PTB – reagiram fortemente ontem à indicação do líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (BA), para a Secretaria de Governo.
Para eles, a nomeação demonstraria claramente a interferência do Palácio do Planalto a favor da reeleição do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), potencial adversário do grupo na próxima disputa para os cargos da Mesa Diretora, em fevereiro de 2017.
Com a queixa de que não participaram das negociações nem foram avisados previamente pelo governo sobre a indicação, líderes do Centrão combinaram uma reação conjunta. Eles prometeram travar a tramitação de projetos de interesse do governo na Casa, entre eles a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata da reforma da Previdência. Após a “rebelião”, o grupo passou a dizer que a nomeação do tucano não ocorreria, pelo menos por ora.
“Em se confirmando (a nomeação), acho uma péssima ideia. Não que ele seja uma pessoa do mal, mas a base do governo na Câmara tem dois vieses: a antiga oposição (PSDB, DEM, PPS e PSB) e o que vocês (imprensa) chamam de Centrão. Isso é uma interferência clara do governo no processo que se avizinha”, afirmou o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), um dos nomes do Centrão que querem disputar a presidência da Câmara no próximo ano.
Segundo Arantes, a negociação teria envolvido um acerto em torno do apoio do PMDB e do PSDB a uma eventual candidatura do deputado do DEM.
O Centrão também ameaçou adiantar a consulta que pretende fazer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para saber se Maia poderá disputar a reeleição. O Regimento Interno da Câmara e a Constituição proíbem reeleição de presidente do Legislativo durante o mesmo mandato, mas há dúvidas se a regra se aplica a mandato-tampão, como o deputado do DEM. Maia foi eleito em julho deste ano para um mandato de sete meses, após o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) renunciar ao comando da Câmara.
“Toda ação tem uma reação. É a Lei de Newton”, afirmou o líder do PTB, que disse ter se reunido anteontem com o presidente Michel Temer. Segundo Arantes, o presidente não “falou nada” sobre Imbassahy.
Outro nome do Centrão que quer ser candidato a presidente da Câmara, o líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), também reagiu à disposição do governo de nomear o tucano. “Tenho certeza de que, antes de se concretizar, o governo vai reunir a base, porque estamos diante de importantes votações, como a da Previdência”, disse. A votação da admissibilidade da PEC da reforma, primeira etapa da tramitação da matéria, está prevista para a próxima semana.
Se a admissibilidade não for votada na próxima semana, a proposta só começará a tramitar no próximo ano, uma vez que o recesso de fim de ano começa no dia 23.
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‘Reação’
“Isso é uma interferência clara do governo no processo que se avizinha (…) Toda ação tem uma reação. É a Lei de Newton.”
Jovair Arantes (GO)
LÍDER DO PTB NA CÂMARA