BRASÍLIA – O Palácio do Planalto recebeu com apreensão o resultado da votação da madrugada desta quinta-feira, 2, na Câmara dos Deputados, que aprovou em primeiro turno a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos, em casos de crimes hediondos, homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte.
“Foi um desastre a votação”, admitiu um auxiliar da presidente Dilma Rousseff (PT) ao Broadcast Político – serviço de informação em tempo real da Agência Estado -, criticando a forma como o debate foi feito na Casa.
Dentro do Planalto, a percepção é de que a situação seja contornável no Senado Federal, onde o governo articula a aprovação da proposta de alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aumentando o tempo de internação para jovens infratores que cometerem crimes graves, mas sem reduzir a maioridade penal.
O presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), já disse que pretende apreciar de uma única vez os projetos sobre a questão e formar uma comissão especial para tratar do assunto.
Aprovação. O texto aprovado na madrugada desta quinta-feira é uma emenda dos deputados Rogério Rosso (PSD-DF), líder do PSD na Câmara, e Andre Moura (PSC-SE) a uma proposta de emenda à constituição. Para Rosso, o resultado marcou uma “derrota do governo”.
“O governo não deveria ter se posicionado, deveria ter liberado a sua bancada, uma vez que os partidos da base, grande parte, se manifestaram favoráveis à redução da maioridade”, comentou Rosso.
Operação. Nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff escalou ministros para impedir o avanço da proposta de redução da maioridade penal no Congresso.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou a antecipação da divulgação do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), alertando que, na contramão do que vem ocorrendo entre os países com as maiores populações prisionais do mundo, o Brasil aumentou o seu ritmo de encarceramento entre 2008 e 2014.
Caso o atual ritmo seja mantido, o governo estima que em 2022 a população prisional brasileira supere a marca de 1 milhão de pessoas – em 2075, uma em cada 10 pessoas estaria em situação de privação de liberdade.