O procurador-geral da República se reuniu reservadamente ontem com deputados do Conselho de Ética
Adriano Ceolin / brasília
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse ontem aos deputados da cúpula do Conselho de Ética da Câmara que “está acompanhando” as supostas ações do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para atrapalhar o trâmite de seu processo de cassação. No entanto, segundo os parlamentares, não foi tratado na conversa de um possível pedido de afastamento do peemedebista do cargo.
A declaração foi feita durante uma reunião reservada entre Janot e o presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA). Com duração de cerca de 40 minutos, o encontro também contou com a participação dos dois vice-presidentes do órgão disciplinador da Câmara: os deputados Sandro Alex (PPS-PR) e Fausto Pinato (PRB-SP), que também é relator do processo contra Cunha.
“Falamos a ele (Janot) sobre algumas coisas anormais, como o cancelamento da reunião da semana passada”, disse Araújo, se referindo ao encontro da quinta-feira da semana passada, em que o relator do colegiado apresentaria o parecer prévio sobre a continuidade do processo de cassação de Cunha. “Ele (Janot) disse que está acompanhando”, completou o presidente do Conselho. “Viemos perguntar qual o limite do Regimento Interno e uso arbitrário do direito dele”, comentou Sandro Alex.
Lava Jato. Araújo afirmou que Janot se dispôs a compartilhar com o Conselho dados sobre as investigações sobre Cunha na Operação Lava Jato. “Inclusive sobre documentos que vieram fora do Brasil”, disse o presidente do Conselho. “Ele voltou a nos dizer que por enquanto foram encontradas quatro contas em nome de Cunha no exterior”, afirmou Araújo.
O presidente da Câmara é acusado de mentir a seus pares de que não tinha contas bancárias fora do País. O relator do caso deu parecer favorável à abertura de processo de cassação do mandato de Cunha. No entanto, o Conselho de Ética ainda não conseguiu deliberar sobre o assunto. A votação deve ocorrer na semana que vem.
Em sua defesa, o presidente da Câmara insiste que não tem contas, mas sim trustes, espécies de fundos dos quais admite ser “usufrutuário em vida” dos recursos ah depositados.